domingo, 29 de maio de 2011

O caderno preto [31-34]

Fuga


Acordei de um raso sonho
Num profundo pesadelo
Não bastou-me o escapismo
Tampouco fingir não vê-lo
Caí num eterno abismo
De puro arrependimento
Como os velhos me diziam
O sonho não deu alento
Mas o que eles não sabiam
É que eu podia ter
Um segredo especial
Um assombroso poder
Surge o ser espectral
Meio semi-imaginário
Mas nem todo ilusão
Um fantasma boticário
E me diz ao coração
Que aceite sua bebida
Que ela mudará aquilo
Que sem ela chamam vida
Não sei bem porque, mas fí-lo
Era um copo acinzentado
Cheio até a extremidade
De espessa bruma lotado
Não ouvindo a sanidade
Contorcendo-me o bebi
É impossível explicar
Que nada mais eu senti
Vi que queria chorar
Mas a alma não deixava
Não havia mais tristeza
Pois a bruma a reservava
Mas não havia beleza
Não que eu me importasse
Pois mesmo a dor mais extensa
É como se não passasse
Em total indiferença
Não havia decisão
Pois não há uma preferência
Por nenhuma opção
Sendo assim caí de ausência
De porque ficar de pé
Catatônico e medonho
Quando a vida não mais é


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