Mayuni, ou Heliogênese
Na selva de cristais
Mahya Lara banhava-se em mel
Princesa dos lux
Inveja de Afrodite
E mil pretendentes assistiam
Religiosamente
Cada alva curva de seu corpo
E ela, indiferente,
Era ungida por um urso cego
Kubi
Seu parceiro
Sua confiança
Noites ardentes
Passam os pretendentes
Em mastros babando odisséicamente
Mahya Lara dorme nua
Sob um ramo de cristal
Unida a seu Kubi
Sem pretensão sexual
Formosura infinita
As mulheres se vão
Contra aquela maldita
Não há competição
Amanhece
Mahya Lara banha-se em mel
Contorce-se de prazer casto
Esfrega-lhe Kubi olhando ao céu
Entrementes
Os pretendentes
Estão todos a um fio de estourar
E quando Kubi lambendo-lhe a seca
Não sei como puderam aguentar
Um arco em punho
Um cristal na mão
De um vulto (eu), longe, na multidão
A ponta afiada olha o peludo
Mas a amada vira o corpo desnudo
O arco relaxa
Mahya Lara sorri
Mahya Lara é feliz
Seu sorriso é a dor de todos nós
Tem Kubi, quem vai querer após?
Não há dúvida, está completa
Seu sorriso é a flor humilde e quieta
Quase comove, mas nos ensandece
Logo que a esperança desaparece
Alguns na mente estupram a coitada
Outros com ela jantam uma ursada
Todos os lux ardendo em chamas frias
Bebem salmoura de imagens vazias
Mahya Lara pede a Kubi um fruto
Fica sozinha na grama cristal
Tentam três homens, loucos de paixão
Tirar-lhe à força a luz virginal
Arcos velozes
Cristais atrozes
Mahya Lara fere os ferozes
Em tais pontos que não vão esquecer
Da loucura que almejaram fazer
Um ruido
Arregalados
Kubi cai de ramos-cristal quebrados
Num perigosíssimo rio de mel
Em silêncio, entopidos de fel
Riem por dentro os homens aliviados
Kubi agoniza prevendo seu fim
Mahya Lara grita e muito chora
Enquanto a terrível corrente assim
Leva o único que ela ama embora
Não há valentes
Entre os pretendentes?
Não, mas há um que de amor está louco
E a ventura da amada almejando
Mais do que a vida, nem que seja um pouco
Salto no rio loucamente nadando
Vorazes vórtices me atropelam
E logo pêlo minhas mãos encontram
Emerjo Kubi, os outros em fúria
Empurram-nos
Ouço apenas a corrente
E leves sons de agonia pretendente
Mahya Lara abate vários
E tal situação comove um: o fado
Que por Mahya Lara era apaixonado
Sobre nós há um ramo de cristal
Toda força que tenho uso agora
Subimos
Estamos fora
Por uma vez desde quando nasceu
Mahya Lara toca um pretentente
Teocristais! E ele sou eu!
O toque é um salto e um abraço quente
Lágrimas se encontram num beijo ardente
Culminam num amor incandescente
O brilho é tanto, o amor tão sentido
Que todo o cristal na selva o reflete
Torna todo nosso mundo brilhante
E ascende ao céu, um astro flamejante
Acende o sol nosso amor incessante