domingo, 29 de maio de 2011

O caderno preto [34-34]

Eu sou uma deidade relativística
Incrível aberração estatística
Sou a incerteza do eixo ordenado
Sou uma ervilha que engasga até o fado

Ímpio, odiado, ponto flutuante
Da amada média mantêm-se distante
Grão de carbono em silício ultra-puro
Em tanque de pressão, ínfimo furo

O caderno preto [33-34]

Modo

Certo dia
Todas as revistas
Toda a mídia da moda
Não teve outra escolha
Senão anunciar:
“A moda está fora de moda”
Todas as boutiques
Joalherias, lojas, grifes, impérios
Faliram e sumiram
Ninguém saía de casa
Não havia o que usar
A humanidade morria de fome
Pois não tinha como plantar
Não tinha como levantar da cama

E quando todos morreram
Menos uns quinze sortudos
Eles vestiram suas pochetes
E foram jantar no Burguer King

O caderno preto [32-34]

Etéreo


Óleo de ungir
Frutas silvestres
Carnes macias
Leite com mel
Pão saboroso
Azeite abundante
Redes perfumadas
Com cem flores cada
Grama úmida
Céu azul perfeito
Sol ameno ar fresco
Piscinas quentes naturais
Robes de seda
E mil milhares de livros de poesia
Dez ninfas nuas lascivas
Banhadas em óleo, por rede
Oito flores por metro quadrado
Um carvalho a cada cem
Pedras segurando as redes
Apoiando dez livros cada

Quem precisa da realidade
Quem precisa que se torne?
O ligado é feliz
O desligado é feliz
Mas o desligável é muito mais

O caderno preto [31-34]

Fuga


Acordei de um raso sonho
Num profundo pesadelo
Não bastou-me o escapismo
Tampouco fingir não vê-lo
Caí num eterno abismo
De puro arrependimento
Como os velhos me diziam
O sonho não deu alento
Mas o que eles não sabiam
É que eu podia ter
Um segredo especial
Um assombroso poder
Surge o ser espectral
Meio semi-imaginário
Mas nem todo ilusão
Um fantasma boticário
E me diz ao coração
Que aceite sua bebida
Que ela mudará aquilo
Que sem ela chamam vida
Não sei bem porque, mas fí-lo
Era um copo acinzentado
Cheio até a extremidade
De espessa bruma lotado
Não ouvindo a sanidade
Contorcendo-me o bebi
É impossível explicar
Que nada mais eu senti
Vi que queria chorar
Mas a alma não deixava
Não havia mais tristeza
Pois a bruma a reservava
Mas não havia beleza
Não que eu me importasse
Pois mesmo a dor mais extensa
É como se não passasse
Em total indiferença
Não havia decisão
Pois não há uma preferência
Por nenhuma opção
Sendo assim caí de ausência
De porque ficar de pé
Catatônico e medonho
Quando a vida não mais é


O caderno preto [30-34]

Fios

Circuitosonos
A fome de uma mesa de metal
Devorada por idéias
Aproximações gráficas
Tecnoexpiração
O suor encefálico
A dor de saber
Devoro
Devoro tudo
Monologs, cálculadoras gráficas
Tabelas de equações
E sacio-me com o metal da mesa
Frio
Cálculista
E por sorte
Por aproximação
Interpolação linear entre Nietzsche e Platão
Eu estou
Aproximadamente morto

O caderno preto [29-34]

R4

Abstrações de ordem infinita
Feitas de puro pensamento
Vistas só por vistas
Projeções sem visível ligamento

Loucos pedaços de hipercoisas
Hipocoisas, hipoexistentes
Existem por terem
Algum sentido para algumas mentes

Como provocativamente
Projetam-se com firme enlaço
Algebricamente
Sobre a reta que se afasta do espaço

O caderno preto [28-34]

=

Eu sou igual a mim
Eu e eu somos iguais ao louco
Eu e você é iguais a nós
Igual à felicidade
Dividida pelo mundo tende a zero
Enquanto o mundo tende ao infinito
E a vida é você dividido por você
Que dá uma só vida para um só você
Quantas vezes mais dividido menos o mundo será?
É igual a zero

O caderno preto [27-34]

Fractal

Tal
Mortal
Morto cristal
Mora toda crise em fractal
Moderno, rápido, total, de cristais sem frase moral

O caderno preto [26-34]

235<1

Um interruptor gigante
Caiu em Hiroxima
E as pessoas inocentemente
Achando que era uma bomba!

O caderno preto [25-34]

Eu sou a mata
Eu mato, eu morro
Por mil caldeiras no porão da sociedade
Sem pressa eu escorro

O caderno preto [24-34]

Era

Um
Pai
Ama
Seu
Pai
E
Uma
Mãe
Ama
Sua
Mãe
Mas
Um
Filho
Não
Sabe
Disso

O caderno preto [23-34]

A Arte nasce da fome
Quando o estômago entope de vazio
Num lapso de Nada
Ferve o corpo mais frio
Imagens voam na mente
Como um veloz slideshow
A fome de qualquer coisa
Uma palavra que ninguém falou
Uma imagem que ninguém pensou
E tudo parece limitado
Da originalidade restou
Um flagelo tão impensado
Que quase impensável se tornou
E o estômago clama
Por pauta ou tela ou palco ou argila
De original não mais se chama
Nem o que a realidade mutila
O que restou para falar?
Como se adiantasse, vou dizer
Que o jeito é papagaiar
Que a ouvir ainda temos de aprender

O caderno preto [22-34]

Todo ser humano é livre
Para ter tantos cromossomos 21 quanto ele quiser

O caderno preto [21-34]

Criança, me escute
Você não pode falar o que quiser
Ninguém pode
Você não pode fazer o que quiser
Ninguém pode
Eu também acho chato

Mas quando quero muito
Falar alguma coisa
Escrevo
E escondo

Você pode escrever o que quiser
Todo mundo pode
Onde tiver espaço no papel
Papel sulfite só seu
Escreva o que quiser
O que queria falar e não pode
Mas não mostre pra ninguém
É seu segredo
Só você e o papel saberão

O caderno preto [20-34]

A laranja perguntou à laranja
Qual era a laranja mais laranja
Que a laranja de laranjal
A laranja respondeu à laranja
Que a laranja mais laranja
Que a laranja de laranjal
É a laranja que lar arranja em laranjal

O caderno preto [19-34]

Óbito de uma dúvida


            -Pai, por que precisamos de cortinas?
            -Pelo mesmo motivo de precisarmos de roupas.
            -Por que precisamos de roupas?
            -Pelo mesmo motivo de perguntar demais fazer mal.

O caderno preto [18-34]

Responsabilidade

Sobra a que cimento global?

Axioma

Há duas soluções para todos os paradoxos
A lógica humilde
E a humilde lógica


Chavão cívico

Aperte dois numeros insignificantes
Quando um rosto insignificante aparecer
Confirme sua própria insignificancia

Origem

Deus é o tesão do pai pela mãe


Oração do ateu

Deus, se você está aí, por favor não esteja


Design inteligente

Um macaco casou-se com uma costela
E o incesto comeu solto
Até os primos esquecerem que são


Axioma zooantropológico

O ser humano era um animal
Antes do anticoncepcional

Agora, somos o que nem deus quiser




Eu vi união
Só não vi ética

O caderno preto [17-34]

Piadinha crítica de poeta

Meus poemas não gostam de mim
Não queriam que eu fosse imperador
É que o voto era censitário
E eu tenho poucos poemas livres e brancos

O caderno preto [16-34]

Pelados em São Paulo

Árvores de concreto
Onde nada é secreto
Dos olhos do cimento
Não escapa sentimento
Trens verticais de alvenaria
Perdem roupas na correria
Violados, expostos, desnudos
As janelas são circos mudos

O caderno preto [15-34]

Ideal

Lábios no vazio
Sonho em sono morto
Subo um fino fio
Até eles, absorto

Treme, quase parte
Fio feito de nada
Milagres da arte
Os lábios da amada

Outra perspectiva
Senão de beijá-la
A alma não cultiva
E o corpo, então, escala

Pulso de noção
O corpo congela
Fio firme na mão
Fita a boca bela

Percebe e entende
A distância é vasta
Quanto mais se estende
Mais dela se afasta

Mortal ilusão!
Já sei, eu te vejo!
A obsessão
Afasta o desejo

Os olhos cerrados
Em sonho profundo
Com força empurrados
De volta no mundo

O caderno preto [14-34]

A Ela

Preciso tes-nos unidos num ponto
Ponto negativo infinitamente comprimnido
Indistintos num abraço absoluto
Devoro-me-tes e devora-me-tes-nos
Abdico-me!
Abdicai-te!
E sejamo-nos-me-te!



( o titulo deste poema foi modificado por motivos de privacidade)

O caderno preto [13-34]

Loop

Silêncio
Som morto
A nudez da manhã
O costume, a visão
Revisão retórica
Muda dialética sofística
E o olhar
O olhar de quem não diz nada
Por saber demais do que se trata
Toda manhã é manhã
Toda nudez é nudez
Todo som é som
O costume é.

O caderno preto [12-34]

Napalm

Não é água nessa chuva
Desespero e alarde
Faz do inferno paraíso
Arde...

Coro de gritos
Alguns de insano pavor
Outros, ígneos, filhos bastardos do fogo
Derretem em prantos píricos de dor

Fero mar de estridência
O limite da garganta impera
A dor dá cria à aberração carbônica
Estuprada pela flamejante fera

Não há ódio, não há revanchismo
Cegos, loucos, adérmicos
Estribucham, imploram à morte
Que acabe com os tormentos térmicos

O sofrer
Faz a guerra total
Parecer
Distante e sem sal

A bênção do fim
De algo tão indizível
Lembra que a pior das chamas
É a chama invisível

O caderno preto [11-34]

O valor da pedra

O silvo da picareta
E a preta pedra estilhaça
A massa cede, respira
Estira a caverna, espaça

Suor no torso desnudo
Mudo a fitar chama fria
Vazia a mente tão bruta
Labuta, espaço cria

A ferramenta que cava
Trava na mão ofegante
Perante homem tão voraz
Jaz milionário diamante

Com uma expressão de gosto
No rosto, o colhe do chão
Então desata a sonhar
Com mar de camas e pão

Num movimento robótico
Neurótico, irracional
Tal jóia, em ato sem volta
Solta sobre um aguarral

ao vê-la ir, ele entende
Se a vende não vai voltar
ao lugar que é de seu fado
abandonado a cavar.

O caderno preto [10-34]

Praga

Baixo nojento grosseiro teimoso
Louco lascivo podre desumano
Ímpio cruel infiel e insano
Desleal mal imoral rancoroso

Pútrido pífio áspero maldoso
Sem tato indigno amargo mundano
Ignóbil estúpido e profano
Sujo imprestável odiável odioso

Fútil inútil desprezivel vil
Carnal obtuso obceno obcesso
Insensível doente doentio

Terrível horrível imoral frio
Fétido rude arruinado possesso
Neurótico apático e vazio

O caderno preto [9-34]

A fúria da fera
Reverbera

É o tremer dos pés no frio
Fóton no vazio
É o poder, e a humildade da senóide

O caderno preto [8-34]

Grunho
Grudo
E desgrenho
Rosnho
Ranho, encebo

Cavo
Me cravo
Corvo crú
Horríel

Rude
Rústico
Arrancado
Desvariado
Arrasado
Aberrado
Aberrante

Humano demais, enfim

O caderno preto [7-34]

Fio

Vai,
Sadio,
Cai,
Vazio,
Vem,
Bravio,
Vai,
Num Fio,

Lei
Compasso
Rei
Abraço
De aço
Sei
Que faço

Sim,
Te ir,
Em,
Sair,
Ir,
E vir,
Fim,
Cair

O caderno preto [6-34]

Jejum

Sorvo-me
E silvo-me
Num eterno pulsar
Do meu ego

“Mas há como quebrar
Sorva algo mais
Quebre tal pulsar
Abandone os ais”

Não o compreendem
O desejo
De não desejar
E o poder

“O que vai ganhar?
É para aparecer?
Se autoflagelar
Não é algum poder!”

O intenso pulso
Eventualmente calo
Mas o poder jaz em que
Podia não tê-lo feito

O caderno preto [5-34]

Drogas inatas

Gosto de vícios naturais
Comida, sono e genitais
Pois eles são mais divertidos
Sem efeitos colaterais
E nunca serão proibidos
Por todos são muito bem tidos
É fácil não usar demais
E não enganam os sentidos
Ninguém reprime vícios tais
Fumo, álcool, drogas nunca mais!

O caderno preto [4-34]

Confinamente

Formiga e vai
Neutro como tofu
Meu corpo se esquece de si
Tetraplegiza-se intermitentemente
E some, sobra só a mente
Bebo meu sangue
Placebo divino
Me digo digno
Devoro recompensas
Feitas de pensamento-confete
Por um merecido
Trabalho-confete
Até que o farol abre
E o sistema de segurança
Dispensa toda a felicidade do mundo
Me alavanca de volta
E eu acelero como quem ainda tem esperança

O caderno preto [3-34]

Bola oito


Eu sei que não há nesta terra
Lugar para alguém como eu
Que amor demais no peito encerra
Que nem os de infância perdeu
Eu sei que não vou encontrar
Alguém que me aceite assim
Me ame muito sem conversar
Que se baste a gostar de mim

Ó bola oito
Ó bola oito
Há alguma afoita para um afoito?

Ó que azar
Zebra sem par
Nem os que querem só vir e passar

Eu sei que o amor desesperado
Nunca vai conquistar ninguém
E que meu linguajar pesado
Não lhe diz que lhe quero bem
Eu sei que é com cordialidade
E até um pouco de zombaria
Que se conquista de verdade
Até sei que conseguiria

Mas não posso evitar dizer
Que quero lhe fazer feliz
Que mesmo sem lhe conhecer
Seu bem foi o que eu sempre quis
O amor que transborda do peito
Lhe é histeria, é loucura
Não consigo, não tomo jeito
Nunca estai à sua altura

Ó bola oito
Ó bola oito
Há alguma afoita para um afoito?

Ó que azar
Zebra sem par
Meu altruísmo lhe impede de me amar

O caderno preto [2-34]

Olho


Pax
Vazio total
Som? Sonho
...
...
...
O ar petrificado
Perfeito logo parado
Monolítica tela do divino pincel
Túnel sagrado subindo ao céu
Silo cinzento só não é sombrio
Pois do olho aberto vaza um fino fio
De alvíssima luz que preenche o vazio
Vácuo perfeito suga toda a dor
Angústia frescura vergonha e pudor
Um anjo cinzento havia me tornado
Vazio de tudo o que possa ser pesado

Olho-me tornado
No olho do tornado

O caderno preto [1-34]

Mayuni, ou Heliogênese

Na selva de cristais
Mahya Lara banhava-se em mel
Princesa dos lux
Inveja de Afrodite
E mil pretendentes assistiam
Religiosamente
Cada alva curva de seu corpo
E ela, indiferente,
Era ungida por um urso cego
Kubi
Seu parceiro
Sua confiança

Noites ardentes
Passam os pretendentes
Em mastros babando odisséicamente
Mahya Lara dorme nua
Sob um ramo de cristal
Unida a seu Kubi
Sem pretensão sexual

Formosura infinita
As mulheres se vão
Contra aquela maldita
Não há competição

Amanhece
Mahya Lara banha-se em mel
Contorce-se de prazer casto
Esfrega-lhe Kubi olhando ao céu
Entrementes
Os pretendentes
Estão todos a um fio de estourar
E quando Kubi lambendo-lhe a seca
Não sei como puderam aguentar
Um arco em punho
Um cristal na mão
De um vulto (eu), longe, na multidão
A ponta afiada olha o peludo
Mas a amada vira o corpo desnudo
O arco relaxa
Mahya Lara sorri
Mahya Lara é feliz
Seu sorriso é a dor de todos nós
Tem Kubi, quem vai querer após?
Não há dúvida, está completa
Seu sorriso é a flor humilde e quieta
Quase comove, mas nos ensandece
Logo que a esperança desaparece
Alguns na mente estupram a coitada
Outros com ela jantam uma ursada
Todos os lux ardendo em chamas frias
Bebem salmoura de imagens vazias

Mahya Lara pede a Kubi um fruto
Fica sozinha na grama cristal
Tentam três homens, loucos de paixão
Tirar-lhe à força a luz virginal
Arcos velozes
Cristais atrozes
Mahya Lara fere os ferozes
Em tais pontos que não vão esquecer
Da loucura que almejaram fazer
Um ruido
Arregalados
Kubi cai de ramos-cristal quebrados
Num perigosíssimo rio de mel
Em silêncio, entopidos de fel
Riem por dentro os homens aliviados
Kubi agoniza prevendo seu fim
Mahya Lara grita e muito chora
Enquanto a terrível corrente assim
Leva o único que ela ama embora

Não há valentes
Entre os pretendentes?
Não, mas há um que de amor está louco
E a ventura da amada almejando
Mais do que a vida, nem que seja um pouco
Salto no rio loucamente nadando

Vorazes vórtices me atropelam
E logo pêlo minhas mãos encontram
Emerjo Kubi, os outros em fúria
Empurram-nos
Ouço apenas a corrente
E leves sons de agonia pretendente
Mahya Lara abate vários
E tal situação comove um: o fado
Que por Mahya Lara era apaixonado
Sobre nós há um ramo de cristal
Toda força que tenho uso agora
Subimos
Estamos fora

Por uma vez desde quando nasceu
Mahya Lara toca um pretentente
Teocristais! E ele sou eu!
O toque é um salto e um abraço quente
Lágrimas se encontram num beijo ardente
Culminam num amor incandescente

O brilho é tanto, o amor tão sentido
Que todo o cristal na selva o reflete
Torna todo nosso mundo brilhante
E ascende ao céu, um astro flamejante
Acende o sol nosso amor incessante

O Caderno preto [Prefácio]

Os poemas que daqui seguem foram escritos nas mais diversas situações do meu cotidiano. Aulas nas quais não queria me concentrar, intervalos, momentos em que eu esperava minha namorada sair da faculdade, e até mesmo num ônibus, com grande esforço para ficarem legíveis. A maioria destes poemas foi manunscrito com garranchos quase incompreensíveis, quase com pressa. Essa é a única coisa em comum entre todos os poemas que daqui seguem. O caderno preto é típicamente um caderno cotidiano. Eu o comprei há um ano e meio, para anotar tudo o que conviesse. No inicio do caderno marquei sessões para fazer um diário. No meio do caderno reservei um amplo espaço para anotações e rascunhos da engenharia. E as ultimas páginas do caderno há uma seção para poesias.

Desde que o comprei ele faz parte de minha labuta, tanto como ser vivente, pois viver já é um trabalho exaustivo, como quanto estudante de engenharia, como quanto poeta. Ele não estava comigo em nenhum dos grandes momentos de minha vida, mas muito mais importante do que isso, estava comigo nos momentos do cotidiano. São esses os momentos que definem um homem, simplesmente porque são infinitamente mais abundantes do que os momentos especiais.

Recentemente, num momento cotidiano, sem nenhuma especialidade, e por isso de grande importância, abri o caderno e me emocionei profundamente com o que estava lá. Por isso decidi perverter a origem manuscrita, torta e cotidiana daqueles versos, e lhes peço perdão como se não fossem uma parte de mim, mas foi o desejo de compartilhá-los, mesmo que só com o abismo da minha própria solidão e talvez com Elias. Disso nasceu esta série, que publico num domingo, depois da típica ida à padaria das onze horas e antes do típico estudo de cálculo numérico de domingo.

Só posso pedir a um eventual leitor que aprecie e que, se não apreciar, não se obrigue a ler.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mais mitologia grega e atualidade

Visões

Ptonisas
Perfidas, pífias
Tem raiva, riem tontas
Aspiram viver aspirando vapor
Pátridas passam, perguntam, pedem, partem

A louca
Mais cabelo que mulher
Os olhos mortos abertos
O rosto torto de desgosto
O vapor a abafar
Mais vapor que ar

Ptonisas
Pútridas putas
Dizem saber, sabem dizer
Enigma de alfa a sigma
Parentes precursoras dos prepotentes puxadores de psique
Silvam fumaça e sons secretos insanos

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Não me louve


Juramento de ordem

Morrerei hasteando a bandeira
Cinco tiros nas costas, cinco chagas
O peso do mundo
Não é nada como o meu

Enquanto seis bilhões de pessoas
Armadas de vergonha e asco
Desfalecerem sobre mim
Pai, abandona-me

Perdoai as chagas
Dai-me o crucio
Culpa-me pelo que vivo a resolver
E abandona-me

Salve aqueles que me matam
E abandona-me

Que nasci no céu
Como gota

E como gota
Caio na terra

E morro no mar

Abandona-me

Não a eles

domingo, 8 de maio de 2011

Desabafo? Não, imagina...

Aos meus queridos críticos

Quer dizer que toda a minha moral
Depende do meu comportamento frente a uma vagina?

Fica muito claro quem gosta mais delas, eu ou você...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Enfim, um poema sobre violinos

Passagem

Pequena alma
Esfera
E seu violino
Miudino!

Minúscula música
Fio da fina faca
Como vai e vem a vida
Num arco
Cansarco
Como quebrou meu encardido encordoado
Quatro por quatro vidas
E tu
Quatro por uma só
E o som dança em meio ao pó

Menina, és maior do que eu