sábado, 25 de dezembro de 2010

Adequando meu estilo

Adequação


É difícil ser humano
O aventalado diz
“Só com mil maçãs por dia
Um homem será feliz”

Ainda por outro lado
Me vem outro aventalado
“Três vezes ao dia escove
Ou ficará careado”

Diz-me então o batinado
“Dê uma hora do seu dia
À memória do Senhor
Ou fica a alma vazia”

Vem o da bandeira verde
Me dizer mais mil asneiras
“Cale a carne, apague a luz
E evite as torneiras”

Ainda têm o letrerrão
A berrar no meu ouvido
“Leia todos os jornais
Ou será embrutecido”

Diz-me então o mentorzão
Para piorar o tema
“Estude sua vida toda
Ou verá miséria extrema”

Depois tem o Stalineiro
A dizer, brandindo mil
“Pague bem ao mais humilde
Igualdade no Brasil!”

Vem então o descanseiro
Dizendo que não me prive
"Se estressando desse jeito
Não é assim que se vive"

Segue-se o suspeiteiro
A berrar, incomformado
“Duvide de tudo e todos
Ande sempre preparado”

E por fim o smokinado
Com um tom experiente
“Fale baixo e fique quieto
Seja sempre, enfim, decente”

Concluí que o ser perfeito
Meus senhores e senhoras
Vive onde o dia tenha
Umas cento e vinte horas!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Sobre questões existenciais

        Obnóxio  



Grão dos diversos dos grãos universos
Cada grão é redutível a zero
No tudo vivo, sob nada impero
Frente a montanhas de grãos tão diversos

O ser humano é um grão de planeta
Cada planeta é no sistema um grão
Sistema é um grão de galáxia, e então,
            Ela é grão na eterna parede preta

            Tendo a nada como todo ser vivo
            Num tudo que não acaba ou começa
            Mas a que isso é um incentivo?

            Antes ser louco e por isso ativo
            Antes pregar em mim mesmo uma peça
            Sou um Deus-Grão de amor-próprio excessivo!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

E o medo se modernizou...

235<1

Um interruptor gigante
Caiu um Hiroshima
E as pessoas inocentemente
Achando que era uma bomba!

O nosso medo

Chuva negra de nêutrons

Em um setembro primeiro
O Universo declarou guerra
Como só havia Universo no Universo
Declarou guerra a si mesmo.
Obviamente não havia, não há parte a culpar
Numa guerra total
Deus chorou pela primeira vez
Não por causa da guerra
Mas por ver que o Universo estava viciado nela
Chorou de cada olho uma lagrima
Duas gotas num beligerante universo
A lenta ação da morte
Andava distraída por Hiroxima
Morreu a lentidão
Um segundo de segundo após a detonação
Uma bomba nuclear mata todo ser vivo a quilômetros do ponto de impacto [em seis segundos
Mas Deus é Omnisábio
Diante de tanto poder
O Universo foi atingido pelo mais poderoso dos silenciadores
O medo
Assassino de assassinos
O pequeno garoto Universo
O próprio Universo que declarara guerra a si
Tremeu de medo de si
A morte da lenta morte não causou caos
Mas uma nova ordem universal
Baseada em um medo que nenhum totalitarismo jamais sonhou causar

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A causa que me move

Planeta Bolor

Uma lágrima verde
Caiu no meu colo
Humilde, honesta
Só pedindo
Pedir? Existe o pedido!
Mas não ao Sapiens
O Sapiens manda

O Sapiens mandou o lago secar
Exportou mil banhos para tomar
Falseou o ar e logrou a terra
De verde tapete venceu a guerra

O clima esquentou
O sapiens não se acalma
O mundo é infinito
O bicho não tem alma

O mar ganhou o olho roxo
A purga veio à vida e terra
E as escrotas excretas de espólios
Obliteradas por terracotas bovinos
O falso ar a confundir o verdadeiro
Nas praias do ártico, moleza é moda
Nosso carbono é preto, não marrom

Pare o mundo, antes que não reste som

sábado, 13 de novembro de 2010

Objetivos

     Eu ando meio sem inspiração. Com os estudos de Mecânica e Cálculo Numérico, nas quais estou pendurado, as constantes requisições da minha namorada, apresentações de teatro no fim de semana, dar carona a várias pessoas da família, sobra pouco tempo para relaxar e fazer uma das coisas que eu mais gosto na vida: sonhar.
     Mas isso faz parte. Eu de longe acho arte mais divertida do que engenharia, mas até aí, se medíssemos nossas vidas exclusivamente pela diversão, ninguém trabalharia. O prazer é apenas um dos fatores que me leva a decidir meu foco. Eu acredito no poder transformador da arte, mas não acho que eu o exerceria tão bem quanto o poder transformador da engenharia. Isso porque quero também mudar a imagem que o mundo tem do engenheiro: aquele homem frio e calculista que faz tudo visando o dinheiro. Não nego que eu quero ganhar muito dinheiro, mas é sem dúvida para poder doá-lo ou investí-lo em causas com as quais me identifico.
    Eu sou utilitário. Para mim, pagar um homem para distribuir ecobags surte o mesmo efeito de distribuí-las você mesmo. Aliás até melhor, pois você emprega uma pessoa e ela própria ganha muita consciência ambiental. Pretendo ser muito, muito bem sucedido, para poder doar muito dinheiro para causas sociais de emergência, auxilio a epidemias e surtos de desnutrição; causas ambientais como tratamento de água, preservação da biodiversidade, reflorestamento, prevenção ao desmatamento, regeneração de solos, entre inúmeros outros; e investir em tudo o que seja ambintalmente correto: carros elétricos, energia limpa, educação de qualidade, saúde no âmbito internacional, e é claro, investir esforços artísticos na humanização da humanidade, como um hobby, mas mais do que isso.
     Foi essa missão, que eu chamo de "The Duty" no meu dicionário individual, que me inspirou a escrever sobre a consciência de um homem do lugar ao qual pertence, e da escolha pela humildade em favor desse lugar.

O valor da pedra

O silvo da picareta
E a preta pedra estilhaça
A massa cede, respira
Estira a caverna, espaça

Suor no torso desnudo
Mudo a fitar chama fria
Vazia a mente tão bruta
Labuta, espaço cria

A ferramenta que cava
Trava na mão ofegante
Perante homem tão voraz
Jaz milionário diamante

Com uma expressão de gosto
No rosto, o colhe do chão
Então desata a sonhar
Com mar de camas e pão

Num movimento robótico
Neurótico, irracional
Tal jóia, em ato sem volta
Solta sobre um aguarral

ao vê-la ir, ele entende
Se a vende não vai voltar
ao lugar que é de seu fado
abandonado a cavar.


    Aos que lêem meu blog, sejam muitos, poucos ou nenhum, quero agradecer pelo interesse e pedir que, se possível e desejado, se identifiquem, comentando ou postando no meu facebook:


De qualquer maneira, obrigado mesmo pelo interesse.


sábado, 6 de novembro de 2010

O buraco negro inerente a nós

Hoje eu comi demais. Grande novidade. A fome e a comida sempre foram, de uma certa forma, espiritualmente menosprezadas. De fato, parece estranho associar qualquer coisa espiritual com um hamburguer, mas todo homem sabe, no fundo de sua herança selvagem, que mesmo o amor compete com a fome como os mais fortes sentimentos de um homem. A fome, mesmo a fome por alimentos, é um buraco negro que, mesmo preenchido, voltará, e se não preenchido, crescerá até consumir tudo o que faz a vida valer a pena. Se a razão estiver no caminho, a fome enlouquece o homem. A comida, então, é a forma do homem de adiar a desgraça da fome, do desejo por mais.

Há outros tipos de fome. Mesmo dentro do mundo físico e animal, existem outros tipos de fome, como o desejo voraz e incansável de um homem por sexo. De certa forma, todo sentimento é um tipo de fome. A raiva é a fome de conseqüências a causas abertas, o amor é uma fome de si mesmo; o medo é a fome de não saber, e a curiosidade, mãe da ciência e da arte, é a fome de saber. A religião é fome de Deus, o ódio é fome de vingança, a própria busca pela felicidade é uma fome de satisfação.

Toda fome tem uma característica marcante: quando alimentada, ela diminui (se sacia) a curto prazo, e aumenta a longo prazo. Comer aumenta seu estômago. Fazer sexo incita um homem a desejá-lo. Raiva, medo, ódio, curiosidade tendem a se fixar quando cultuados. Religiões se fixam na mente do homem, o amor  em si faz mais falta quando já se o teve.

A fome é o desejo por mais. É o que impede um homem de ver com indiferença a própria morte, de se importar com o fato de estar vivo. Sem fome, não há desejo, sem desejo, não há aspiração, sem aspiração, não há ação, ou motivação, ou interesse. É o princípio da apatia. Vida e morte tornam-se sinônimos, e quando surge uma pontada de fome de nada, esta prevalece àquela. É o princípio de um suicídio.

A fome de nada mata todos os demais tipos, é uma anti-fome, uma perda de humanidade e do senso de busca inerente a todos nós, que se manifesta de formar completamente diferentes, mas se origina sempre na fome, no desejo por algo mais. O desejo por algo menos é o suicídio da fome, o desejo se autodestruindo, desejando, como sempre deseja, mas desejando o próprio fim.

Depressão, estresse, inanição e falta de motivação são formas de fome de nada, é o desejo de não se satisfazer, o desejo de não desejar, essencialmente, o desejo de morrer.


Fome Crônica

Quando a fome surgiu
Criei mandíbulas enormes
Devorei toda a comida do universo,
Não bastou.
Reconhecendo que não era fome comum
fiz mais força
minhas mandíbulas cresceram.
Passei a devorar outras coisas
Todo tipo
Nada bastava.
Achei que era fome de vida
Crescendo ainda mais minha cavidade
Devorei pessoas
Durou muito tempo
até devorar todas
Todas as pessoas
Do universo
Não bastou.
Em desespero
Não mais medindo razão
Decidi parar de tentar coisas e tentei todas as coisas
Fiz forças enormes
descomunais
Me superpus a mim mesmo
Para que minhas mandíbulas ficassem maiores do que o universo
E colocando meus dentes em torno dele
Devorei o universo inteiro.
A certeza era errada
Não adiantou.
A fome não passava
E obviamente depois do universo
Não havia o que devorar.
Enfraquecido pela injusta medida
Regurgitei tudo
Tudo o que já comera
Se foi
Voltou a si
O universo não bastara
Então entendi que minha fome
Não era fome de comida, coisa, pessoa ou de tudo
Minha fome era fome de nada.


    Convido o leitor, como convidei no começo do blog, a comer. E que a comida simbolize todas as fomes que esse leitor sente. Não se apresse a se saciar, aproveite a fome como aproveita a comida. Cronos, como o tempo, devora tudo o que cria no momento em que nasce, mas a Prudência trará o devorado passado à tona. O que você come hoje será você amanhã.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poda social

Inconveniente.
Cada dia me ensina a odiar mais essa palavra
Não por si própria. Não se odeiam palavras por si próprias
Mas pela forma doentia como o mundo usa.
inconveniente, indecente, desrespeitoso
Sinônimos de "não é o que eu quero"
Não que não existam conveniência, decência e respeito
Mas eles não estão no julgamento de uma única pessoa
Aliás, coisas que exigem julgamento coletivo ainda são um problema para a humanidade
É difícil aceitar a visão alheia e não a sua
E se tentássemos conciliar tudo?!
Obviamente temos que escolher algumas formas de decência
O resto são bandeiras nuas

Adequação


É difícil ser humano
O aventalado diz
“Só com mil maçãs por dia
Um homem será feliz”

Ainda por outro lado
Me vem outro aventalado
“Três vezes ao dia escove
Ou ficará careado”

Diz-me então o batinado
“Dê uma hora do seu dia
À memória do Senhor
Ou fica a alma vazia”

Vem o da bandeira verde
Me dizer mais mil asneiras
“Cale a carne, apague a luz
E evite as torneiras”

Ainda têm o letrerrão
A berrar no meu ouvido
“Leia todos os jornais
Ou será embrutecido”

Diz-me então o mentorzão
Para piorar o tema
“Estude sua vida toda
Ou verá miséria extrema”

Depois tem o Stalineiro
A dizer, brandindo mil
“Pague bem ao mais humilde
Igualdade no Brasil!”

Segue-se o suspeiteiro
A berrar, incomformado
“Duvide de tudo e todos
Ande sempre preparado”

E por fim o smokinado
Com um tom experiente
“Fale baixo e fique quieto
Seja sempre, enfim, decente”

Concluí que o ser perfeito
Meus senhores e senhoras
Vive onde o dia tenha
Umas cento e vinte horas!


Eis uma fresquíssima trova Aiseop
Eu raramente me meto a trovador
Mas hoje achei conveniente
Se você não achou, discorde comigo
Mas discorde como quem quer entender

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Um pouco de opinião política...

Aperte dois numeros insignificantes
Quando um rosto insignificante aparecer
Confirme sua própria insignificância



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ciência da invenção

N.A: Nesta postagem, eu falei de metafísica e Deus até onde minha competência me permite e, modéstia à parte, isso é bastante. O leitor despreparado, ou que não têm estômago ou interesse por esse tipo de sofisma, está liberado para pular o trecho marcado como papo-cabeça e ler o poema. Ninguém vai pensar menos de você, pois a discussão que apresento, na prática, é tão inútil quanto complexa.


As coisas tem melhorado, estou prestando atenção nas aulas e estudando bastante. Estou me dando relativamente bem. Sinal claro disso é que voltei à produção poética. Recentemente escrevi um, que não me sinto muito inspirado a postar hoje, mas que virá em breve. Procurei então em meu acervo antigo por um poema dos melhores para postar, e achei 'Thomas Edison no escuro', uma velha jóia. Lembra-me do poder criador do ser humano. Para mim, o Ser Humano é um deus de seu próprio Universo.

[Papo-cabeça] Independente de Teísmo ou Ateísmo, o Universo cresceu pela propagação do que deu certo. No caso do Universo, dar certo é simplesmente ter condições físicas de se propagar. Se a matéria repelisse a matéria, estrelas, planetas e galáxias não dariam certo, e não seriam propagados. O Universo que vemos é resultado do conjunto de coisas que deram certo. Isso para mim torna sensato pensar que tudo surgiu do acaso, do Caos, pois o Caos pode criar tudo, inclusive algo imune a ele próprio. Assim, a sina do Caos é se autodestruir lentamente, pois ele tem o poder de gerar a Ordem, mas nem sempre de destruí-la. Também vale lembrar que é mera especulação o fato de o Universo ter só 13 bilhões de anos. O próprio Big Bang poderia ter levado trilhões para estar pronto para acontecer. Os físicos ignoram essa possibilidade por não terem como estudá-la, mas ninguém a nega.

Mas também é muito simples, comparado com essa grande maquinação, pensar numa grande Força Suprema cavando o Tudo no Nada. Perguntar "quem criou Deus" é não partir de um pressuposto obrigatório para chamar Deus de Deus. Se alguém criou Deus, esse alguém é Deus. Deus tem de existir sem ter sido criado (ou ter sempre existido), ou ter sido por algo que não Existe (ou seja, surgido do nada, ou de Si mesmo, como preferir.) A lógica, nesse ponto, trava, mas ouso ir adiante, ao dizer que isso era coerente nas circunstâncias nas quais Deus veio a ser. A lógica provavelmente surgiu junto com o tempo. De certo modo, o tempo surgiu junto com Deus, mas por outro lado, Deus tem de ter vindo "antes" do tempo. Novamente, nesse ponto da Existência a lógica não existia, logo esses dois não se excluíam. Sem a lógica, é fácil pensar em um ser criado a si mesmo, ou surgindo do nada. Essencialmente, nesse caso, Deus é o Caos, o Caos ordenado, um Caos que pode criar tudo, inclusive a Ordem imune a ele. Um Deus que pode criar uma pedra que ele mesmo não pode levantar, e assim surge o Universo em que vivemos. [/Papo Cabeça]


De qualquer maneira, o ser humano inventa como Deus (ou o Caos): perpetuando o que da certo.

Thomas Edison no escuro

Quando Deus pôs o monóculo
Criou o universo
E a partir daí, foi só invenção

O Bang inventou o espaço
Do espaço fez-se o tempo
O tempo fez a paciência
E o Tudo aprendeu a esperar um femtinhossegundo pela explosão
E a explosão fez o Tudo
Que tanto esperava ser feito

O Tudo inventou as coisas
Que inventaram a diferença
A diferença inventou a perfeição
Que inventou a vida que inventou o errado
Mas logo o errado inventou o certo
E a vida reinventou a diferença

O certo por muito vagou
Nos caminhos da idiossincrasia da vida
E o errado puxando, embora sabendo que a vida não ia tombar
Até que o certo viu um ramo de árvore
Criticando a dona por sua ineficiência
E desse ramo inventou o homem

E o homem inventou a visão
Que até então toda invenção era breu
E a visão por si inventou a ação
E a ação quis universo para dizer seu

Eis que aqui me encerro, sem que haja problema
Pois se quiser ir até o fim desse tema
Sugiro ao leitor que releia o poema.


    As idéias filosóficas que apresentei em meu papo cabeça foram concebidas em meu segundo ano de colegial e são uma firme convicção pessoal, que me leva a me incluir, embora com certo receio, entre os Agnósticos. Mas como sou muito utilitário, deixei essa questão de lado. Que cada qual dedique-se ao que acredita, contanto que mantenha sua contribuição à sociedade humana, Deus a parte. (o que as vezes os religiosos fazem mais do que os demais)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Amor, e como é tudo o que dizem dele!

Hoje foi um dia dedicado à arte. Após a aula, passei uma hora e meia lendo "os miseráveis", de Victor Hugo, e voltei para casa pensando no amor. Apesar de meus planos para um poema épico, não pude deixar uma inspiração tão forte passar. Veio desses pensamentos sobre o amor e a minha vida, e como o primeiro é para o segundo o que Deus é a um fanático.

Chegando em casa, escrevi um poema. Em geral escrever um poema, para mim, é algo rápido e muito direto. Minha mente organiza rápida e imediatamente o que ela quer dizer ao universo e libera em uma estrutura que, por ser muito ligado à música, faço metrificada e rimada quase por acaso. Hoje não. Esse tema, e esse significado, sequer consigo, quanto mais quero simplesmente dizer. Amor não é algo que se declara, é algo que se constrói, e eu construi.


Foram, sem exageros, três horas fechado no meu quarto, ao som de um loop constante da música The Longships, da Enya, com um dicionário de significados, um de rimas e um de sinônimos, fitando fotos de mulheres amadas, e lapidando por minutos a fio cada verso, cada palavra, cada acerto na métrica. A jóia áurea, reluzente e perfeita que resultou é, até hoje, um de meus melhores e mais gratos trabalhos.

E não poderia deixar de ser, pois o amor, para mim, significa muito mais do que para qualquer outra pessoa que eu conheço. Foi o amor desmedido por uma mulher que me salvou quando eu via o suicídio como a solução mais interessante. Foi o amor desmedido que me ensinou a ser mais do que o mundo. Foi o amor desmedido por uma mulher que me ensinou a amar a mim mesmo com todas as forças que eu puder reservar para isso.

Aminara, eternamente a primeira da minha vida. Yashat, um eterno símbolo de tudo o que o amor significa para mim. Calmai, meio-górgona, mãe de um paradoxo que me ensinou a buscar algo mais. Cessai vosso doce cantar, mestras, que hoje canta Alrua, a única que me vê!



Serei-as


Ó corpo de tez veludo
Em cada linha carnudo
Finos cabelos de linho
Ó Jóias do Deus marinho

Na obsessão irracional de um apaixonado errante
Aceito meu destino de afogado delirante

Deslumbrante mar harmônico
Um sopro supra-sinfônico
Puxa-me som tão canoro
Uma por vez, nunca em coro

Passado e futuro se perdem no olvido da morte
A vida se torna sonho e abandona ao mar a sorte

A mente e a alma, em loucura
O imparcial corpo segura
Preparado, evito o fado
Pois vou ao mastro amarrado

Aceito minha vida, eterno amante não amado
Me prendendo, arrependendo, a sonhar com o mar salgado


 Se eu pudesse sugerir algo a todos os seres humanos do mundo, não seria relacionado ao amor, simplesmente porque ninguém precisa falar do amor, ele é o que é, o fogo que acalenta todo coração e faz pulsar todas as veias. Perigoso como é, ninguém pode-se dizer livre dele, e ninguém feliz pode dizer que o despreza.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Desafios politécnicos

Amanhã tenho prova de mecânica. É a matéria na qual preciso mesmo ir bem, e muito. Não pude deixar de extravasar aqui meu nervosismo, o que me faz melhor do que estudar, até certo ponto.
O poema que deixo aqui, depois de alguma pesquisa entre minhas antiguidades, foi escrito no ano passado, e é um surto de voracidade e ódio que me causou a memória de Camila, a odiada. De fato, essa menina inspirou boa parte de meus mais sanguinários e odiosos poemas. Mostrei para meu professor de literatura do cursinho, e ele me pediu para ler em voz alta para as cento e cinqüenta pessoas na classe. De fato me orgulho muito dessa produção estruturalmente perfeita, e conceitualmente idêntica aos meus sentimentos.



Peito aberto

Meus olhos quietos vomitam segredos
Únicos que sabem o que eu penso
Não se percebe, por dentro estou tenso
De resto o corpo opera sem medos

Minha mão dura segura um facão
Por dentro chora por fora mutila
Tripas irrompem, o sangue rutila
Ganem entranhas e banhas no chão

A obra acabada, a morta amada
Algo preservei enquanto feria
Apenas a face jaz intocada

Beijo-lhe a face de sangue encharcada
Não me arrependo, é o que ela queria
Disse antes morta do que namorada


    Me sinto melhor. Agora é tirar o sangue do ombro e a Camila da cabeça, pois Mecânica A me aguarda e um 7 ou 8 cairia muito bem.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Radicalismo

As vezes é melhor nem comentar, por mais bem formada que seja a sua opinião, se ela fere um senso comum muito forte, ou até um dever cívico. Peço o perdão de quem me acha menos humano agora, e digo que concordo em parte com quem pensa isso.



Crueldade com eles

Era uma vez um chinês
Que esfolou uma cobra
Que envenenou um cão
Que trucidou um gato
Que comeu um rato
Que infectou um boi
Que pisoteou uma barata
Que comeu ovos de larva
Que mãe fez sobre a carcaça de uma mosca
Que infectou um chinês

Você estava falando dos direitos de quem mesmo?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pelo

Sim, des-desfazendo meu discurso anterior, decidi deixar crescer o cabelo até os ombros. A isso me inspirou meu tio César. Conta ele, mostrando o RG, que um bigode como o dele era mal visto. Todos lhe diziam para tirá-lo, mas ele decidiu que não ficaria bonito se não usasse o estilo que gosta. Eu posso não ser muito bonito, mas fingindo um estilo que não é o meu, eu ficaria muito mais feio, isso eu garanto. Decidi que me importo sim com a minha própria aparência, mas eu me importo com o que eu mesmo acho dela, e não os outros. Dessa maneira, eu posso ligar para a aparência sem ligar para o que os outros pensam. Nesse sentido, a palavra "aparência" descreve mal a idéia. Talvez eu deva dizer "estilo físico" ou algo assim, mas prefiro simplificar. Há mais de um ano escrevi este poema:

Cabelo

A fera, fúria desfiada
Armada, acordada
Cortada, arrancada
Quasimoda amada
Medúsica fração de história
Nosso pelo darwiniano
Serpente que sorve mória
Chupa nosso ser mundano
Morto-vivo ícone de beleza
Mar de fios
Ouro, madeira, solo, rubi, opala
Serpente louca, balança, estala
Chove imóvel, superior a nós
Para si ta obrigatório atroz
Devora-me em tua imensidão
Que és zumbi, e eu podridão


Homens de cabelo comprido do mundo, uni-vos!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Reverberações

Fora o estresse e uma angústia mórbida que tenta se esconder sobre uma fina capa de conformismo, ando muito ligado à música (quer dizer, mais do que o comum). Eu sou eclético. Mas eclético mesmo. A maioria das pessoas que se dizem ecléticas simplesmente gostam de todo tipo de música mais conhecida e atual. Poucos pesquisam variedades remotas e pitorescas de música. Poucos tem dois Álbuns de música Andina, e ouvem com frequencia. Poucos ouvem música erudita mais do que muito eventualmente, poucos se interessariam por uma banda de Dance-Polka polonesa chamada Siklawa quando por acaso a visse na internet. Mas eu sou assim: tem ritmo, eu gosto pelo menos um pouco. É claro que há um lugar muito especial no meu coração para algumas musicas excelentes. O poema abaixo fala de som, do mundo subatômico e de uma bela floresta ao mesmo tempo, porque para mim os três têm algo muito forte em comum: um caos total que apenas esconde, e esconde muito bem, uma ordem perfeita.




O Som da selva

Quando os quarks quarkearam
Quiseram quebrar a quietidão
No cosmo cavaram, criaram
A extensa selva, imensidão

A selva silva seu som
Num cacarejante cântico
Lâmina prata de som
Atravessa o vácuo quântico

Vozes de veludo
Vazando nos vitrais
Vidro violeta
Cravado de cristais

E a selva assegura
Assessora, açougueira
Assovia bela, pura
O som azul da ribeira

Se a sinfonia silenciar
Se desfaçará em areia
Querendo o coro quebrar
Cada quark desquarkeia

Tantas coisas na natureza são assim: parecem o absoluto Caos estatístico, mas tudo o que acontece nelas é programado, planejado e cuidadosamente medido pelas Leis Naturais.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Novos horizontes

Hoje eu fui apresentado ao Linux. É interessante ver como tudo o que você está tão acostumado a fazer é substituível. Aliás essa é uma das grandes problemáticas da vida humana: saber o que é e o que não é substituível. Muitas vezes nos esquecemos de que nos desfazer das coisas é sempre uma possibilidade. A vida em sociedade implica em um sem fim de tradições e costumes. As vezes é útil até mesmo quebrar essas tradições simplesmente por quebrar, para reconhecer seu poder de fazê-lo. É claro que a prioridade deve sempre ser o próprio bem-estar e o alheio, mas é muito comum que a quebra das tradições faça a ambos um bem. Por exemplo: a sinceridade absoluta é muito ruim, mas o ideal é que seja quase absoluta, e que os impedimentos para ela não sejam vergonha ou estilo, mas o mau uso que se possa fazer dela.

Filosofias a parte, hoje a aula de Física foi um tanto entediante, o que em geral resulta em ótimos poemas feitos durante ela. Como foi o caso, decidi disponibilizá-los. Ainda estou economizando ótimos poemas para momentos propícios.

Chavão Cívico

Aperte dois números insignificantes
Quando um rosto insignificante aparecer
Confirme sua própria insignificância




Axioma

Há duas soluções para todos os paradoxos
A lógica humilde
E a humilde lógica



Drogas Inatas

Gosto de vícios naturais
Comida, sono e genitais
Pois eles são mais divertidos
Sem efeitos colaterais
E nunca serão proibidos
Por todos são muito bem tidos
É fácil não usar demais
E não enganam os sentidos
Ninguém reprime vícios tais
Fumo álcool drogas, nunca mais!


É raro eu fazer um poema Aiseop metrificado e rimado como este último, mas é mais raro ainda um poema Nosphoros sem metrificação nem rimas, e nem sequer um título, como o que vem a seguir. Apesar disso, não gosto de fazer um poema Nosphoros sem qualquer efeito sonoro, então ele surgiu muito aliterado, o que gerou um efeito desejavelmente grosseiro:

Grunho
E desgrenho
Rosno
Ranho, ensebo

Cavo
e Cravo
Corvo cru
Horrível

Rude
Rústico
Arrancado
Desvariado
Arrasado
Aberrado
Aberrante

Humano demais, enfim.


Fiquem ligados no blog, pois as aulas andam muito entediantes.

domingo, 3 de outubro de 2010

Visão de futuro



Segundo a organização, que promove o cumprimento das metas das Nações Unidas para o combate à pobreza no mundo, os países em desenvolvimento receberam em 49 anos o equivalente a US$ 2 trilhões em doações de países ricos.
Apenas no último ano, os bancos e outras instituições financeiras ameaçadas pela crise global receberam US$ 18 trilhões em ajuda pública.
[...]
O relatório da Campanha pelas Metas do Milênio argumenta que a destinação de dinheiro ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão de falta de recursos, mas sim de vontade política.
[...]
“O que é ainda mais paradoxal é que esses compromissos (firmados pelos países ricos para ajudar os pobres) são voluntários. Ninguém os obriga a firmá-los, mas logo eles são renegados”


Eu sou idealista, mas não sou um idealista burro. Eu sei que nem todo mundo está preocupado em construir um futuro melhor, e que as vezes injetar dinheiro no desenvolvimento de países pobres não é a solução miraculosa, mas eu acredito na construção de um futuro consciente, mesmo que não dê resultados visíveis no meu ciclo de vida. Minha única ambição individual é fazer o possível durante minha vez na terra, para passar o bastão com carinho pelo mundo que deixo. Não quero glória, reconhecimento, prazer pessoal ou experiência de vida. Sou obcecado por lutar pelos meus ideais, especialmente pela construção de um capitalismo assistencialista, no qual o conceito de luxo decaia, a vida torne-se utilitária, e o superávit que isso gerar seja empregado em uma atitude de dever cívico e governamental: a assistência a causas emergênciais e desenvolvimentistas de países mais necessitados. Porque hoje em dia há sapatos de 5 milhões de dólares, sendo que em um ano, a maior organização assistencialista internacional do mundo aplica 600 milhões. E há lugares no mundo que precisam.