quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ciência da invenção

N.A: Nesta postagem, eu falei de metafísica e Deus até onde minha competência me permite e, modéstia à parte, isso é bastante. O leitor despreparado, ou que não têm estômago ou interesse por esse tipo de sofisma, está liberado para pular o trecho marcado como papo-cabeça e ler o poema. Ninguém vai pensar menos de você, pois a discussão que apresento, na prática, é tão inútil quanto complexa.


As coisas tem melhorado, estou prestando atenção nas aulas e estudando bastante. Estou me dando relativamente bem. Sinal claro disso é que voltei à produção poética. Recentemente escrevi um, que não me sinto muito inspirado a postar hoje, mas que virá em breve. Procurei então em meu acervo antigo por um poema dos melhores para postar, e achei 'Thomas Edison no escuro', uma velha jóia. Lembra-me do poder criador do ser humano. Para mim, o Ser Humano é um deus de seu próprio Universo.

[Papo-cabeça] Independente de Teísmo ou Ateísmo, o Universo cresceu pela propagação do que deu certo. No caso do Universo, dar certo é simplesmente ter condições físicas de se propagar. Se a matéria repelisse a matéria, estrelas, planetas e galáxias não dariam certo, e não seriam propagados. O Universo que vemos é resultado do conjunto de coisas que deram certo. Isso para mim torna sensato pensar que tudo surgiu do acaso, do Caos, pois o Caos pode criar tudo, inclusive algo imune a ele próprio. Assim, a sina do Caos é se autodestruir lentamente, pois ele tem o poder de gerar a Ordem, mas nem sempre de destruí-la. Também vale lembrar que é mera especulação o fato de o Universo ter só 13 bilhões de anos. O próprio Big Bang poderia ter levado trilhões para estar pronto para acontecer. Os físicos ignoram essa possibilidade por não terem como estudá-la, mas ninguém a nega.

Mas também é muito simples, comparado com essa grande maquinação, pensar numa grande Força Suprema cavando o Tudo no Nada. Perguntar "quem criou Deus" é não partir de um pressuposto obrigatório para chamar Deus de Deus. Se alguém criou Deus, esse alguém é Deus. Deus tem de existir sem ter sido criado (ou ter sempre existido), ou ter sido por algo que não Existe (ou seja, surgido do nada, ou de Si mesmo, como preferir.) A lógica, nesse ponto, trava, mas ouso ir adiante, ao dizer que isso era coerente nas circunstâncias nas quais Deus veio a ser. A lógica provavelmente surgiu junto com o tempo. De certo modo, o tempo surgiu junto com Deus, mas por outro lado, Deus tem de ter vindo "antes" do tempo. Novamente, nesse ponto da Existência a lógica não existia, logo esses dois não se excluíam. Sem a lógica, é fácil pensar em um ser criado a si mesmo, ou surgindo do nada. Essencialmente, nesse caso, Deus é o Caos, o Caos ordenado, um Caos que pode criar tudo, inclusive a Ordem imune a ele. Um Deus que pode criar uma pedra que ele mesmo não pode levantar, e assim surge o Universo em que vivemos. [/Papo Cabeça]


De qualquer maneira, o ser humano inventa como Deus (ou o Caos): perpetuando o que da certo.

Thomas Edison no escuro

Quando Deus pôs o monóculo
Criou o universo
E a partir daí, foi só invenção

O Bang inventou o espaço
Do espaço fez-se o tempo
O tempo fez a paciência
E o Tudo aprendeu a esperar um femtinhossegundo pela explosão
E a explosão fez o Tudo
Que tanto esperava ser feito

O Tudo inventou as coisas
Que inventaram a diferença
A diferença inventou a perfeição
Que inventou a vida que inventou o errado
Mas logo o errado inventou o certo
E a vida reinventou a diferença

O certo por muito vagou
Nos caminhos da idiossincrasia da vida
E o errado puxando, embora sabendo que a vida não ia tombar
Até que o certo viu um ramo de árvore
Criticando a dona por sua ineficiência
E desse ramo inventou o homem

E o homem inventou a visão
Que até então toda invenção era breu
E a visão por si inventou a ação
E a ação quis universo para dizer seu

Eis que aqui me encerro, sem que haja problema
Pois se quiser ir até o fim desse tema
Sugiro ao leitor que releia o poema.


    As idéias filosóficas que apresentei em meu papo cabeça foram concebidas em meu segundo ano de colegial e são uma firme convicção pessoal, que me leva a me incluir, embora com certo receio, entre os Agnósticos. Mas como sou muito utilitário, deixei essa questão de lado. Que cada qual dedique-se ao que acredita, contanto que mantenha sua contribuição à sociedade humana, Deus a parte. (o que as vezes os religiosos fazem mais do que os demais)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Amor, e como é tudo o que dizem dele!

Hoje foi um dia dedicado à arte. Após a aula, passei uma hora e meia lendo "os miseráveis", de Victor Hugo, e voltei para casa pensando no amor. Apesar de meus planos para um poema épico, não pude deixar uma inspiração tão forte passar. Veio desses pensamentos sobre o amor e a minha vida, e como o primeiro é para o segundo o que Deus é a um fanático.

Chegando em casa, escrevi um poema. Em geral escrever um poema, para mim, é algo rápido e muito direto. Minha mente organiza rápida e imediatamente o que ela quer dizer ao universo e libera em uma estrutura que, por ser muito ligado à música, faço metrificada e rimada quase por acaso. Hoje não. Esse tema, e esse significado, sequer consigo, quanto mais quero simplesmente dizer. Amor não é algo que se declara, é algo que se constrói, e eu construi.


Foram, sem exageros, três horas fechado no meu quarto, ao som de um loop constante da música The Longships, da Enya, com um dicionário de significados, um de rimas e um de sinônimos, fitando fotos de mulheres amadas, e lapidando por minutos a fio cada verso, cada palavra, cada acerto na métrica. A jóia áurea, reluzente e perfeita que resultou é, até hoje, um de meus melhores e mais gratos trabalhos.

E não poderia deixar de ser, pois o amor, para mim, significa muito mais do que para qualquer outra pessoa que eu conheço. Foi o amor desmedido por uma mulher que me salvou quando eu via o suicídio como a solução mais interessante. Foi o amor desmedido que me ensinou a ser mais do que o mundo. Foi o amor desmedido por uma mulher que me ensinou a amar a mim mesmo com todas as forças que eu puder reservar para isso.

Aminara, eternamente a primeira da minha vida. Yashat, um eterno símbolo de tudo o que o amor significa para mim. Calmai, meio-górgona, mãe de um paradoxo que me ensinou a buscar algo mais. Cessai vosso doce cantar, mestras, que hoje canta Alrua, a única que me vê!



Serei-as


Ó corpo de tez veludo
Em cada linha carnudo
Finos cabelos de linho
Ó Jóias do Deus marinho

Na obsessão irracional de um apaixonado errante
Aceito meu destino de afogado delirante

Deslumbrante mar harmônico
Um sopro supra-sinfônico
Puxa-me som tão canoro
Uma por vez, nunca em coro

Passado e futuro se perdem no olvido da morte
A vida se torna sonho e abandona ao mar a sorte

A mente e a alma, em loucura
O imparcial corpo segura
Preparado, evito o fado
Pois vou ao mastro amarrado

Aceito minha vida, eterno amante não amado
Me prendendo, arrependendo, a sonhar com o mar salgado


 Se eu pudesse sugerir algo a todos os seres humanos do mundo, não seria relacionado ao amor, simplesmente porque ninguém precisa falar do amor, ele é o que é, o fogo que acalenta todo coração e faz pulsar todas as veias. Perigoso como é, ninguém pode-se dizer livre dele, e ninguém feliz pode dizer que o despreza.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Desafios politécnicos

Amanhã tenho prova de mecânica. É a matéria na qual preciso mesmo ir bem, e muito. Não pude deixar de extravasar aqui meu nervosismo, o que me faz melhor do que estudar, até certo ponto.
O poema que deixo aqui, depois de alguma pesquisa entre minhas antiguidades, foi escrito no ano passado, e é um surto de voracidade e ódio que me causou a memória de Camila, a odiada. De fato, essa menina inspirou boa parte de meus mais sanguinários e odiosos poemas. Mostrei para meu professor de literatura do cursinho, e ele me pediu para ler em voz alta para as cento e cinqüenta pessoas na classe. De fato me orgulho muito dessa produção estruturalmente perfeita, e conceitualmente idêntica aos meus sentimentos.



Peito aberto

Meus olhos quietos vomitam segredos
Únicos que sabem o que eu penso
Não se percebe, por dentro estou tenso
De resto o corpo opera sem medos

Minha mão dura segura um facão
Por dentro chora por fora mutila
Tripas irrompem, o sangue rutila
Ganem entranhas e banhas no chão

A obra acabada, a morta amada
Algo preservei enquanto feria
Apenas a face jaz intocada

Beijo-lhe a face de sangue encharcada
Não me arrependo, é o que ela queria
Disse antes morta do que namorada


    Me sinto melhor. Agora é tirar o sangue do ombro e a Camila da cabeça, pois Mecânica A me aguarda e um 7 ou 8 cairia muito bem.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Radicalismo

As vezes é melhor nem comentar, por mais bem formada que seja a sua opinião, se ela fere um senso comum muito forte, ou até um dever cívico. Peço o perdão de quem me acha menos humano agora, e digo que concordo em parte com quem pensa isso.



Crueldade com eles

Era uma vez um chinês
Que esfolou uma cobra
Que envenenou um cão
Que trucidou um gato
Que comeu um rato
Que infectou um boi
Que pisoteou uma barata
Que comeu ovos de larva
Que mãe fez sobre a carcaça de uma mosca
Que infectou um chinês

Você estava falando dos direitos de quem mesmo?

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pelo

Sim, des-desfazendo meu discurso anterior, decidi deixar crescer o cabelo até os ombros. A isso me inspirou meu tio César. Conta ele, mostrando o RG, que um bigode como o dele era mal visto. Todos lhe diziam para tirá-lo, mas ele decidiu que não ficaria bonito se não usasse o estilo que gosta. Eu posso não ser muito bonito, mas fingindo um estilo que não é o meu, eu ficaria muito mais feio, isso eu garanto. Decidi que me importo sim com a minha própria aparência, mas eu me importo com o que eu mesmo acho dela, e não os outros. Dessa maneira, eu posso ligar para a aparência sem ligar para o que os outros pensam. Nesse sentido, a palavra "aparência" descreve mal a idéia. Talvez eu deva dizer "estilo físico" ou algo assim, mas prefiro simplificar. Há mais de um ano escrevi este poema:

Cabelo

A fera, fúria desfiada
Armada, acordada
Cortada, arrancada
Quasimoda amada
Medúsica fração de história
Nosso pelo darwiniano
Serpente que sorve mória
Chupa nosso ser mundano
Morto-vivo ícone de beleza
Mar de fios
Ouro, madeira, solo, rubi, opala
Serpente louca, balança, estala
Chove imóvel, superior a nós
Para si ta obrigatório atroz
Devora-me em tua imensidão
Que és zumbi, e eu podridão


Homens de cabelo comprido do mundo, uni-vos!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Reverberações

Fora o estresse e uma angústia mórbida que tenta se esconder sobre uma fina capa de conformismo, ando muito ligado à música (quer dizer, mais do que o comum). Eu sou eclético. Mas eclético mesmo. A maioria das pessoas que se dizem ecléticas simplesmente gostam de todo tipo de música mais conhecida e atual. Poucos pesquisam variedades remotas e pitorescas de música. Poucos tem dois Álbuns de música Andina, e ouvem com frequencia. Poucos ouvem música erudita mais do que muito eventualmente, poucos se interessariam por uma banda de Dance-Polka polonesa chamada Siklawa quando por acaso a visse na internet. Mas eu sou assim: tem ritmo, eu gosto pelo menos um pouco. É claro que há um lugar muito especial no meu coração para algumas musicas excelentes. O poema abaixo fala de som, do mundo subatômico e de uma bela floresta ao mesmo tempo, porque para mim os três têm algo muito forte em comum: um caos total que apenas esconde, e esconde muito bem, uma ordem perfeita.




O Som da selva

Quando os quarks quarkearam
Quiseram quebrar a quietidão
No cosmo cavaram, criaram
A extensa selva, imensidão

A selva silva seu som
Num cacarejante cântico
Lâmina prata de som
Atravessa o vácuo quântico

Vozes de veludo
Vazando nos vitrais
Vidro violeta
Cravado de cristais

E a selva assegura
Assessora, açougueira
Assovia bela, pura
O som azul da ribeira

Se a sinfonia silenciar
Se desfaçará em areia
Querendo o coro quebrar
Cada quark desquarkeia

Tantas coisas na natureza são assim: parecem o absoluto Caos estatístico, mas tudo o que acontece nelas é programado, planejado e cuidadosamente medido pelas Leis Naturais.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Novos horizontes

Hoje eu fui apresentado ao Linux. É interessante ver como tudo o que você está tão acostumado a fazer é substituível. Aliás essa é uma das grandes problemáticas da vida humana: saber o que é e o que não é substituível. Muitas vezes nos esquecemos de que nos desfazer das coisas é sempre uma possibilidade. A vida em sociedade implica em um sem fim de tradições e costumes. As vezes é útil até mesmo quebrar essas tradições simplesmente por quebrar, para reconhecer seu poder de fazê-lo. É claro que a prioridade deve sempre ser o próprio bem-estar e o alheio, mas é muito comum que a quebra das tradições faça a ambos um bem. Por exemplo: a sinceridade absoluta é muito ruim, mas o ideal é que seja quase absoluta, e que os impedimentos para ela não sejam vergonha ou estilo, mas o mau uso que se possa fazer dela.

Filosofias a parte, hoje a aula de Física foi um tanto entediante, o que em geral resulta em ótimos poemas feitos durante ela. Como foi o caso, decidi disponibilizá-los. Ainda estou economizando ótimos poemas para momentos propícios.

Chavão Cívico

Aperte dois números insignificantes
Quando um rosto insignificante aparecer
Confirme sua própria insignificância




Axioma

Há duas soluções para todos os paradoxos
A lógica humilde
E a humilde lógica



Drogas Inatas

Gosto de vícios naturais
Comida, sono e genitais
Pois eles são mais divertidos
Sem efeitos colaterais
E nunca serão proibidos
Por todos são muito bem tidos
É fácil não usar demais
E não enganam os sentidos
Ninguém reprime vícios tais
Fumo álcool drogas, nunca mais!


É raro eu fazer um poema Aiseop metrificado e rimado como este último, mas é mais raro ainda um poema Nosphoros sem metrificação nem rimas, e nem sequer um título, como o que vem a seguir. Apesar disso, não gosto de fazer um poema Nosphoros sem qualquer efeito sonoro, então ele surgiu muito aliterado, o que gerou um efeito desejavelmente grosseiro:

Grunho
E desgrenho
Rosno
Ranho, ensebo

Cavo
e Cravo
Corvo cru
Horrível

Rude
Rústico
Arrancado
Desvariado
Arrasado
Aberrado
Aberrante

Humano demais, enfim.


Fiquem ligados no blog, pois as aulas andam muito entediantes.

domingo, 3 de outubro de 2010

Visão de futuro



Segundo a organização, que promove o cumprimento das metas das Nações Unidas para o combate à pobreza no mundo, os países em desenvolvimento receberam em 49 anos o equivalente a US$ 2 trilhões em doações de países ricos.
Apenas no último ano, os bancos e outras instituições financeiras ameaçadas pela crise global receberam US$ 18 trilhões em ajuda pública.
[...]
O relatório da Campanha pelas Metas do Milênio argumenta que a destinação de dinheiro ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão de falta de recursos, mas sim de vontade política.
[...]
“O que é ainda mais paradoxal é que esses compromissos (firmados pelos países ricos para ajudar os pobres) são voluntários. Ninguém os obriga a firmá-los, mas logo eles são renegados”


Eu sou idealista, mas não sou um idealista burro. Eu sei que nem todo mundo está preocupado em construir um futuro melhor, e que as vezes injetar dinheiro no desenvolvimento de países pobres não é a solução miraculosa, mas eu acredito na construção de um futuro consciente, mesmo que não dê resultados visíveis no meu ciclo de vida. Minha única ambição individual é fazer o possível durante minha vez na terra, para passar o bastão com carinho pelo mundo que deixo. Não quero glória, reconhecimento, prazer pessoal ou experiência de vida. Sou obcecado por lutar pelos meus ideais, especialmente pela construção de um capitalismo assistencialista, no qual o conceito de luxo decaia, a vida torne-se utilitária, e o superávit que isso gerar seja empregado em uma atitude de dever cívico e governamental: a assistência a causas emergênciais e desenvolvimentistas de países mais necessitados. Porque hoje em dia há sapatos de 5 milhões de dólares, sendo que em um ano, a maior organização assistencialista internacional do mundo aplica 600 milhões. E há lugares no mundo que precisam.