segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um estudo sobre o poema que perdi.

Alma Raiada

Meu poema morreu
Duas vezes de fuzil
Não agonizou
O olho era firme
E o punho sempre aberto

Meu poema calou
O tiro saiu pela alma
E escapou da morte
Através da morte

Projétil duro
De um fuzil repressor
Voa no espaço, inercial
Rumo ao infinito que é morrer

Mas meu poema não morreu
Porque morreu
E a morte
É a cura do ferimento de bala

Meu poema não morreu porque morreu
Mas não morreu
Porque é poema
E poemas tem buracos para as balas passarem
Se não tiveram
Agora têm
E sangram
Mas sangue de poema não finda
Porque o poema não precisa de sangue
O poema não quer sangue
O poema não tem sangue

O poema é sangue

E é da natureza do que sangra ser poema
E do que é poema
Ouvir os estampidos
De mil soldado
Apontando mil fuzil
Para si mesmo
Pela ordem imperial
Segundo a qual

Homens morrem uma vez
Poemas morrem duas
Uma no homem
Outra no fuzil
E fuzis não morrem
Sangram pólvora
Bebem chumbo
Febris de metais pesados
Mas não morrem
Porque...

Não há porque
A natureza do fuzil
É o Universo
Se o fuzil morrer
O conceito de morte muda
Para o que não aconteceu com nenhum fuzil até hoje
No aleatório de uma bala perdida
Vale a pena poetizar?

O diria eu
Tudo vale a pena
Se a culatra não é pequena

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