terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ouviu a boa nova sobre a poesia? Ela é um marisco.

Arisco

A poesia é um marisco!
Alusão difícil de tragar
Em tres partes simbióticas
unidas definido

O substrato
Rocha nua, científica
A vida ocasional do poema
é um respiro
no infinitóide ignéico
a pedra não é arte
a pedra não tem arte
a pedra arde
arfa, da parte
fio d'agua nutrida
visível apenas ao olho da carne

a concha
é meia coisa
que a meia concha
espelha a pedra
não farsa, paródia
em sua veia dura
estática, inerrática
cartesiana
não é antiga
não é ígnea
não subsiste
guarda
em seu cerne
a carne

carne fluída
fraca, hídrica
sobre o fosso de uma podridão mortal
válvula viva
soluçante
sinfona
sifona
a fome
suga o substrato
e subtrai-se
ao eterno ventre
eterno feto
que em anti-seta cronopórtica
devolve rocha a lava
concha a carne
homem a feto
e vive
simples, sombria
a alma de carne
que há na poesia!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A uma grande amiga. Grande, e em expansão.

Irradiante

De um incêndio voraz
Na tampa da vida
Não perturba a paz
Mas a faz garrida

Do vermelho o gosto
Que o verde corrói
Lhe é na roda oposto
É a cor que destrói

Chora e cora a mata
Serpenteando agônica
Estala a chibata
Crepitação sônica

Uma cinza filha
De um casal maldito
Fino plano de ilha
Paira no infinito

E quer arder, fogo
Olhos no horizonte
Onde arder é jogo
Sem verde que afronte

Demônio amazônico
Num verde de alma
Mas pouco e lacônico
Onde anjos tem calma

Em pírico enlaço
Com tua mãe bucólica
De parar o espaço
A arte simbólica

Teu pai é o arder
O fio da mudança
Não só por lazer
Por aventurança

No silêncio escuta
O anseio impassível
Do incêndio que luta
Por mais combustível

Te amam, te odeiam
O fogo que teima
Os juizos permeiam
"Me aquece! Me queima!"

O fogo vital
Não é a se julgar
Por bem ou por mal
Deverá queimar

E queima na pira
A boa, a má
Que beije, que fira
Que arda, Hannah!

Da minha força, e sua real forma

Este poema é um rascunho de um poema futuro, mas elaborado, sobre o tema. Por isso, é denotativo e vazio. Ainda assim, bonito. (E estou com fome, não consigo compor com fome, independente da inspiração)




Atmos fera

Força é meu nome
E seu significado é fluidez

Porque a mais indestrutível parede
É uma parede feita de ar
Lasque-se o aço!

Bate-a
E o ar se vai
Mas no instante de uma verdade
Estratosfericamente conexa
Está onde se foi
Volta antes de ir
E, no alívio molecular
De uma película
Nanométrica
De...
Não vácuo
Rarefação
Vácuo é um limite insano
Desumano
Queres mesmo
Demônio do mundo
Derrubar minha parede?

Fecha um universo
No universo
Com uma desesperança
Perfeitamente hermética
Perfeitamente
Hermética

E, com um cuidado brutal
Faz vácuo em mim
Tira-me tudo
Mas tudo!
Deixe um pouco
E é apenas uma rarefação
A parede ainda existe
Eu existo, rarefeito

Agora, tire tudo
E eu, ou qualquer coisa
Morre
A única coisa menor que eu
É o espaço vazio
Não o tempo
Porque com o tempo
Se sua desesperança, demônio
Fizer um infimíssimo furo
Do tamanho yoctometrico
De uma esperança
Minha parede de ar se regenera
Imediatamente
Lentamente menos rarefeita
E, acredite, não só o furo
Sua desesperança
Explodirá com a fúria de um Universo vingativo
A parede mais forte
É a menor, por mais estável

A estabilidade além do ar
Uma parede de espaço
É o que eu almejo
É o que me falta
Que o espaço se torce, se tange, se muda
Mas não se rasga
Nunca

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Um pequeno e não planejado estudo da solidão


Antes só

Tem pessoas do meu lado
Mas estou só, sem amigo
Porque eu estou com todos
Mas ninguém está comigo

O prazer da companhia
É a mentira da piada
Somos filmes um ao outro
Não irmãos na mesma estrada

Mas preciso, não de irmão
Só não vivo na cafua
A mim basta o amor estranho
Pelos passantes na rua

Tem pessoas do meu lado
Mas estou só, e satisfeito
Entre os estranhos que eu amo
Me conheço um ser perfeito

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

De um poeta que odeia as palavras

Ideal

A verdade
É que o poeta despreza as palavras
Não as suporta, não as entende
A elas
Não se basta

O poema ama as idéias
Pentaconfluências de sentidos
Sensações
Aquilo
Isto
Aqui

Mas como dar vida à idéia
A ideia calada é a idéia morta
A idéia vive
Terminal
Em consante hemodiálise de expressão

E é aí que o poeta
Que odeia as palavras, por serem vazias de idéias
Não tem escolha
Senão palavrear
Viver a idéia poética
Que não vive em silêncio
Nem está nas palavras
Mas come o vazio de ser citada
Sub-citada, mal referenciada
Nos versos tortos de um desejo de partilha

E a idéia poética nunca deixa a mente
Nunca parte a parte alguma
E o leitor, ah, o leitor!
Deve estar alimentando sua própria idéia

Mas nunca terá a minha
Que as idéias não se entendem
Mas ainda assim
Conversam











segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Um estudo sobre o poema que perdi.

Alma Raiada

Meu poema morreu
Duas vezes de fuzil
Não agonizou
O olho era firme
E o punho sempre aberto

Meu poema calou
O tiro saiu pela alma
E escapou da morte
Através da morte

Projétil duro
De um fuzil repressor
Voa no espaço, inercial
Rumo ao infinito que é morrer

Mas meu poema não morreu
Porque morreu
E a morte
É a cura do ferimento de bala

Meu poema não morreu porque morreu
Mas não morreu
Porque é poema
E poemas tem buracos para as balas passarem
Se não tiveram
Agora têm
E sangram
Mas sangue de poema não finda
Porque o poema não precisa de sangue
O poema não quer sangue
O poema não tem sangue

O poema é sangue

E é da natureza do que sangra ser poema
E do que é poema
Ouvir os estampidos
De mil soldado
Apontando mil fuzil
Para si mesmo
Pela ordem imperial
Segundo a qual

Homens morrem uma vez
Poemas morrem duas
Uma no homem
Outra no fuzil
E fuzis não morrem
Sangram pólvora
Bebem chumbo
Febris de metais pesados
Mas não morrem
Porque...

Não há porque
A natureza do fuzil
É o Universo
Se o fuzil morrer
O conceito de morte muda
Para o que não aconteceu com nenhum fuzil até hoje
No aleatório de uma bala perdida
Vale a pena poetizar?

O diria eu
Tudo vale a pena
Se a culatra não é pequena

domingo, 6 de janeiro de 2013

Me explico, novamente.


Iermanjá

Que a linha-fome se solda lasciva
Sobre si mesma em arco crescente
Meu pai estômago, a aura viva
Deste amor sacro e concupiscente

Os amores, sei os belos
Os futuros, sei os fartos
E não sei os por seios

No deserto de um herege casto
A bica láctea tangerá
Na areia mar, litoral vasto
Pelo perdão de Iermanjá

Certa vez eu disse
"Prefiro lamber o chão
Do que morrer de fome de sexo"

Pois é mais doce o chão que a ceia
Lembrai da gordura entre as carnes santas
Que Jesus, ao partir
Partiu a comida
E comeu
O mais grunho e feroz ato
De demolir matéria
Sugar o mundo, parasitar
É também de Deus
É também meu
Picar flor, gregorianamente

A prima voz do senhor
Também foi

"Frutificai
e multiplicai-vos"