terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ao amor, como é.

Quieto

Eu vou esperar a palavra
A palavra que não será dita
A que nunca foi pensada
A palavra que só existe
Mesmo assim sem existir
Em asilo político
Nos esgotos do meu existir
Eu vou esperá-la

Eu vou esperar ela voltar
Dos olhos de medusa
Dos amores de Iara
Das garras de cérbero
Eu vou esperar 
O zero valer um
O sol se por no leste
E o cervo comer mil leões

Vou sentar-me
Na tua concha vazia
Fechar os olhos
Ouvir tua música
E me deixar passar
Esperar

Verei em mim a palavra
Cada vez menos
Enquanto a memória
Espera a espera acabar 
Como quem quase finge
Que não sabe
Que está esperando
 A espera acabar


E a espera acabará
Como tudo o que não é tudo
Numa projeção espiralante do infinito
Além do que entendemos
Não haverá mais cervo ou leão
Ou sol ou leste
Ou zero ou um
Nem nada que não seja tudo

E nesse escuro vazio
Não haverá espera
E lá, enfim
A memória será sincera
Não haverá palavra
E eu dormirei




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