segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Violências de novembro [2-2]

Molde

A barreira mais difícil de se quebrar
Não é a barreira que barra
É a que deixa passar

Não é a defesa violenta
Não a que impede o mal de entrar
Em toca de raposa coelho não entra
A barreira que vale construir
É a que assovia e conforta
Convence o bem a não sair

A barreira de madeira
O fogo pode queimar
Basta que uma tocha queira

A de aço está sozinha
E com mil milênios químicos
Se desfaz, definha

A de amor é forte
Mas precisa de sangue
Sucumbe à morte

A de dor é boa
Mas quer fugir
Não fica a toa

Toda barreira
Se um inimigo encontrar
Se perderá inteira

Tudo o que é indissoluto
Único, fixo
Terá fixo seu fim absoluto

A barreira mais difícil de se quebrar
Pense bem, porque é surpresa
Ela é feita de ar!


Violência de novembro [1-2]

Rush

Estoucansadodetermenosespaçodoquesou
Espaçodeaçosemespaçoparaumtraço
violentovaziosemvidaecomfrionocalor
Corredeirasdealumiínioofegamemdescompasso
Nasbarrasígneasdaloucuraumfechardeolhosseabafa
Eovazioentupidodeestrumeimplodeetrava
Ovaziocheiodetudodoqueprecisamossemquerer
Eaoreabriremquaseporosmoseautomotiva
Osolhoscaemdorostoúmidodefimdetardeperdida
Numdiaperdidonumrushperdidocheiodevidacheiadevazio

Omundoestácheiodevazio
Easórbitasdeneonsangramtempoquevaleoestrumedeumvolante
Umapocalipsedeestridênciadesistedoquenuncaesperou
Milcorposgordosdelataestribuchamnovermelho
Eenlouquecemderelógio
Enquantotudocorreatrásdonadaqueéviver
Avidachoraefreiacomamãooqueorádionãofazesquecer
...E o carro morre...



[Apenas o conteúdo]

Rush


Estou cansado de ter menos espaço do que sou
Espaço de aço sem espaço para um traço
violento vazio sem vidae com frio no calor
Corredeiras de alumiínio ofegam em descompasso
Nas barras ígneas da loucura um fechar de olhos se abafa
E o vazio entupido de estrume implode e trava
O vazio cheio de tudo do que precisamos sem querer
E ao reabrirem quase por osmose automotiva
Os olhos caem do rosto úmido de fim de tarde perdida
Num dia perdido num rush perdido cheio de vida cheia de vazio
O mundo está cheio de vazio
E as órbitas de neon sangram tempo que vale o estrume de um volante
Um apocalipse de estridência desiste do que nunca esperou
Mil corpos gordos de lata estribucham no vermelho
E enlouquecem de relógio
Enquanto tudo corre atrás do nada que é viver
A vida chora e freia com a mão o que o rádio não faz esquecer
...E o carro morre...

domingo, 20 de novembro de 2011

Confissão

Não falo, mas quero dizer
Amor, quero te fazer saber
Do amor, do que penso e sinto
Infeliz medo meu, porém
Afasta-me por instinto

,


Estou sem entender por que
Uma confissão seria tão ruim


Também, porém, não entendo
Em confessar o que é tão importante assim

Assim eu vivo, como sempre vivi
Morto de dúvida, medo, insegurança
O que acaba hoje, confesso, aqui.


Hoje eu falo de alguém que me ouve. Hoje eu me comunico. Não é mentira nem metáfora dizer que amo  várias mulheres. Exceto um, que está consumado, todos esses amores são tão proibidos quanto intensos.
Obviamente são não-correspondidos. Quase não-correspondíveis de quaisquer maneiras.

Cada amor é único, especial e grande, mas quase todos seguem mais ou menos o mesmo percurso:

Começam quase sem que se perceba, com uma simpatia muito forte por alguém desconhecido. É incrível  como eu tenho faro para pessoas maravilhosas: antes de perceber qualquer qualidade, eu já estou sentindo algo diferente.

A paixão se prolifera e se faz perceber. As vezes toma conta da minha vida, outras vezes lhe dá força e sustentação. O que ela sempre traz, nessa fase, é alegria e bem-estar, especialmente em ver a pessoa, ler o que ela escreve, pensar nela, vê-la com a mente, de qualquer maneira. É lindo.

Em geral essa paixão se consolida e esfria. Se acalma e se torna amor. E é aí que a minha vida ganha razão, que tudo o que me faz existir ganha uma nova dimensão e eu me pego pensando que aquela pessoa não tem a menor ideia de que é tão especial para alguém tão aleatório. Em geral eu tento contato, fico amigo, ganho simpatia e companhia. É um amor puro e sincero, mas esconde, secretamente, um desejo de ter a pessoa, que espera.

Um longo tempo passa, e eventualmente, o desejo perde a paciência. Eu sinto um pouco de inveja, especialmente em ver a pessoa com amigos ou namorados, mas não muita. Sinto um pouco de angústia por não ter a pessoa, mas não muita. Sempre conformado com a situação, não me deixo abalar por isso. O que toma conta, e não é mais controlável, é um desejo muito forte de confessar. Se não posso ter a pessoa que amo, desejo ao menos que ela saiba.

Esse desejo conflita com a timidez que caracteriza esse tipo de amor. Timidez e desejo de confissão comprimem, cada um de um lado, um coração forte, calejado, mas ao mesmo tempo muito sensível. Eventualmente eu sempre confesso. Poucas meninas nunca souberam que eu as amo (consigo me lembrar de duas, dentre as que mais amei).

Estou exatamente nesse cume de uma paixão, e confesso de uma forma recatada e misteriosa. É uma forma que eu encontrei de ao mesmo tempo satisfazer meu desejo e driblar a timidez: eu não confesso de forma direta e certeira, mas não deixo de confessar. Em geral, como eu amo pessoas boas e de coração, elas compreendem, o que sempre me deixa feliz

Segue-se um abrandamento de relações. Preciso enfatizar que nunca, jamais, deixei de amar alguém que amo. Amar é algo mais, é um fortíssimo voto de vida. O que se perde é a paixão, o desejo e o costume de pensar na pessoa. Longe de ser esquecida, a pessoa se torna um amor sem prática ou presença. Verdadeiro como sempre, mas não mais influente em minha vida. E o processo se repete com outra boa alma.
Gosto de sonhar com a união eterna, mas não vou me iludir: isso provavelmente vai acontecer com você, minha amada (a menos é claro, que você também sinta algo por mim. Por pura paixão, não deixo de pensar nessa possibilidade). Mas quero que, se é que você entendeu que a confissão é para você, lembre-se do seguinte:

Eu não quero nada de você, além de que você seja feliz, e da possibilidade de ser parte disso

Não tenha medo de mim. Detesto muito causar medo a quem tanto amo. Sou o mesmo que você conhece, e não mudarei de postura sem claro indício de que você quer que eu mude.

Mais importante do que tudo isso: conte comigo. Eu sei que, se tiver um problema ou uma angústia, você dará preferência a amados e amigos, mas não se esqueça que meu amor por você nunca morrerá, e quando precisar de qualquer coisa que eu possa oferecer (em especial companhia e carinho), eu me lembrarei de você.

Eu me lembrarei de você. Eu te amo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ao amor, como é.

Quieto

Eu vou esperar a palavra
A palavra que não será dita
A que nunca foi pensada
A palavra que só existe
Mesmo assim sem existir
Em asilo político
Nos esgotos do meu existir
Eu vou esperá-la

Eu vou esperar ela voltar
Dos olhos de medusa
Dos amores de Iara
Das garras de cérbero
Eu vou esperar 
O zero valer um
O sol se por no leste
E o cervo comer mil leões

Vou sentar-me
Na tua concha vazia
Fechar os olhos
Ouvir tua música
E me deixar passar
Esperar

Verei em mim a palavra
Cada vez menos
Enquanto a memória
Espera a espera acabar 
Como quem quase finge
Que não sabe
Que está esperando
 A espera acabar


E a espera acabará
Como tudo o que não é tudo
Numa projeção espiralante do infinito
Além do que entendemos
Não haverá mais cervo ou leão
Ou sol ou leste
Ou zero ou um
Nem nada que não seja tudo

E nesse escuro vazio
Não haverá espera
E lá, enfim
A memória será sincera
Não haverá palavra
E eu dormirei




sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Angustia

Clepsidra de vácuo

Na noite trêmula de Poliana
Cacei uma rosa no jardim do espelho
Mas a rosa já não era uma rosa
Era uma insígnia de aço vermelho

No rosto doce da cuia vazia
Segui o caminho que já sei de cor
Mas o caminho não era caminho
Só a seca justante do meu suor

Pela escadaria de um beijo sozinho
Dancei com luzes numa espiral viva
Mas a tal vida não era mais vida
Era só um espelho feito de saliva

Dos rios estanques de tatos rugosos
Saltei ao mar das imagens sem portos
Mas o que se diz mar não era mar
Era um balde de sonhos natimortos

Por todo o tempo que tive para ter
Nadando na eterna água, eu não sabia
Que aquela água nunca fora água
Que a clepsidra estava vazia