sexta-feira, 15 de julho de 2011

A uma bela cerejeira, que merece mais.


O bambu e a cerejeira

Na aventura paladina da vida
Vagava em repouso num ébrio sábado
E me foi posto, timidamente, um dilema

Diz-se de uma bela e forte cerejeira
Com raizes muito rasas
Mas num solo bom
Que cresce feliz e saudável
Até que sob seu tronco
Começa a nascer um jovem e imaturo bambu

O bambu traz dois problemas:
Primeiro, mistura suas raizes às da cerejeira
Ainda mais, a cerejeira começa a ceder lugar ao bambu
Seu lugar
E começa a morrer
De baixo para cima, fica oca, e é perpassada
E eu devo ajudá-los:
Se forem separados, ambos ficarão muito fracos
Especialmente a cerejeira
Mas se mantidos assim,
O bambu crescerá mal
E a cerejeira morrerá por dentro

Enfim, um problema aparentemente sem solução
Mas, como sempre, eu fui duro, frio e pragmático
Disse à cerejeira que haviam duas opções:

Ou ela se fundiria ao bambu, e aprenderia a viver com ele
Ou o mataria dentro de si
O bambu crescerá
E tomará mais e mais espaço, inevitavelmente
Matará a cerejeira e morrerá sem sol dentro do cadáver da que o salvou
O bambu deve morrer
E se não puder
Não há outra opção
Senão renunciar a si
E se fundir a ele, se tornar ele
E não viver por nada, senão ele
Morrer você, enfim, cerejeira
Se tornar uma escrava do impetuoso broto que a penetra

E como que ritualisticamente
Encorajando a cerejeira a tomar uma decisão
Espalhei meu sangue pela terra
Sangue paladino, sangue nascido para ser derramado

Para que a cerejeira o beba
E seja fria
Não deve achar que morrerá
Se matar a criatura que rasga seu ventre
Não ter medo

E se escolher se flagelar pelo amor
Que seja capaz de sustentar a escolha
Até que esteja fundida a ele

Nestas palavras, faço um tributo
Àqueles que amam seus parasitas
E ofereço, nestas palavras, meu sangue

Para que o bebam
E façam sua dolorosa escolha
Antes que se devorem de dentro para fora

E não reste nada senão a memória do que poderia ter sido

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