quinta-feira, 28 de julho de 2011

Rabiscos num bloco de notas digital durante uma viagem de carro [2/2]

Estruturas amorosas

A solda não quer só um ferro
A solda quer ao menos dois
E faz valer o querer
Pois dois ferros nunca se amam tanto
Quanto a solda os molda a amar
O que é a solda com um ferro só?
O que é um ferro sem outro?
O que é união sem dois ferros por solda
E duas soldas por ferro?

Aos filhos do certo
Proponho que façam seu muro de preconceito
Monogâmico
Com um cimento por tijolo
Uma cola por madeira
Uma solda por ferro

E abracem-se dois a dois
Sem olhar ele tombar logo depois

Rabiscos num bloco de notas digital durante uma viagem de carro [1/2]

Paradoxo da fragilidade

Num estupro lírico
À metáfora Drummondiana
Sou uma rosa de concreto
Um paradoxo sem um átomo de lógica
Portanto, um integrante típico da natureza

Não-atureza

A conceitualistica principial
Afirma a não contradição
Um evento, como a fragilidade,
Não pode ter respostas sim e não

A conceitualistica principial
Vale menos do que ações em 1929
Vai não contradizer a mãe
(alias, não faça isso)

Quem já viu um engenheiro chorar
A solda por amor ao ferro soldar
Quem já viu um leopardo
Beijar os filhotes
Com sangue de filhotes na boca
Não precisa de fragilidade limpa
E se banha na brutalidade de um gato recém-nascido

terça-feira, 26 de julho de 2011

Uma fábula Omniversal, galáctica, descrevendo tudo e Nada




Musica de acompanhamento:

O povo acima

O povo de Ayak
Um mundo superior
Conhecëe o Omniverso
Além do Universo
E transitäa pela dimensão dos conceitos como pelo espaço e tempo

Não häa passado
Presente
Ou futuro
Por isso, grafäa um tempo genérico
Referente apenas à existência do ato

Como todos dos mundos superiores
Os Ayaky não tenhäa forma definida
Nem tempo de vida
Nem sëe Ayaky, se se afastäa de sua própria definição

Mas nem sempre foi assim
Ayak já foi um mundo médio
Como o humano
Apenas um ponto no tempo e no conceito
E incapazes de abarcar o Plano Existencial

No tempo, sete bilhões de anos atrás
Existiam ha oitocentos milhões
E com total controle das ciências naturais
Varriam as galáxias próximas com naves
Em busca de respostas aos grandes dilemas

O que esse tempo de existência
Oito mil vezes supeior ao humano
Não pode, nem poderia responder de modo geral
São as questões profundas do Algo Mais
E da incerteza de tudo

Viviam a dezessete bilhões de anos luz da via láctea
E estiveram aqui uma vez, mas o Sol não existia
Mas um evento de uma fração de segundo
Elevou a raça inteira em duas dimensões de visão
E a quinta criou infinitas outras, conforme ela se define

Foi a expedição de um Ayaky de nome perdido
Ao centro do Universo, nunca antes visitado
Que levou oitenta anos, metade da vida Ayaky
E toda a perícia científica possível no mundo físico
Tudo pela ínfima possibilidade de resposta

Após uma vida isolado, estudando
Rezando, criando, rindo, vivendo por viver
O referente da nave hiperespacial
Indicou a chegada no destino
Enfim a vida gasta vingaria

Descairou a capa da nave
E desceu ao espaço puro
E oitenta anos imaginando
Não o prepararam o suficiente
Para o que viu

Viu a si
Como num espelho
Mas que dormia
Tocou seus olhos, examinou,
Quase se desapontava, desistia

Então lhe ocorreu o que realmente devia fazer
Imitou a posição que se via fazendo
E cerrou os kwi (olhos) sem confiança
E foi nesse momento que mudou
Foi nesse momento que viu

O que palavras não diriam a um ser humano
Embora, pela natureza experimental destes
Não se privem de tentar dizer
Mesmo conhecendo a inutilidade de tentar
Elas tentam

Viu si em si
E si em Nada
E logo Nada era si
E logo Nada era tudo
E, enfim, tudo era si

Assim, esse Ayaki descobriu
A natureza indefinitiva do espaço
A natureza relativa do tempo
E a natureza manipulável do conceito
Assim, esse Ayaki descobrïi

Mutäa-se num planeta vermelho
E fechäa os olhos com harmonia
E logo não haviam mais Ayaki
Só häa Ayaki
E assim subïi Ayak

Subïi aos mundos superiores
Que sëe os cujos habitantes sabëe
Que tudo sëe fluível
Não pela vontade, mas pelo simples ato de sëe
E conhecëe o Omniverso ao redor do Universo

Realitus, ou Universo, o real
Phantasius, ou imaginação
Inphantasius, o nunca imaginäa
Os três compöo o Plano Existencial
Cercäa pelo Indefinivel, que por sëe citäa estäa errado

E o Algo Mais
Existïi por Existïi
Flutuando em si
Numa resolução inaparadoxável
Do que não se resolve sem tudo e sem Nada

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma leve meatalinguagem.

Três trovas travadas

Se eu canto o bem e o amor
Me dizem que é batido
Mas se eu canto a dor
Dizem que estou sentido!

No tempo de eu cantar
A epifania acabou
Me resta só imitar
O que a reservou

Se leio-me sem calma
Me acho tão sem arte
Mas se abro a mim a alma
Sou bom, modéstia a parte!

domingo, 17 de julho de 2011

O que permeia minha mente...

Ser um ser
Interno a outro
Morar na força alheia
Biologicamente
Incompleto
Oculto num coração
Ser menos que um ser
E com o outro morrer

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A uma bela cerejeira, que merece mais.


O bambu e a cerejeira

Na aventura paladina da vida
Vagava em repouso num ébrio sábado
E me foi posto, timidamente, um dilema

Diz-se de uma bela e forte cerejeira
Com raizes muito rasas
Mas num solo bom
Que cresce feliz e saudável
Até que sob seu tronco
Começa a nascer um jovem e imaturo bambu

O bambu traz dois problemas:
Primeiro, mistura suas raizes às da cerejeira
Ainda mais, a cerejeira começa a ceder lugar ao bambu
Seu lugar
E começa a morrer
De baixo para cima, fica oca, e é perpassada
E eu devo ajudá-los:
Se forem separados, ambos ficarão muito fracos
Especialmente a cerejeira
Mas se mantidos assim,
O bambu crescerá mal
E a cerejeira morrerá por dentro

Enfim, um problema aparentemente sem solução
Mas, como sempre, eu fui duro, frio e pragmático
Disse à cerejeira que haviam duas opções:

Ou ela se fundiria ao bambu, e aprenderia a viver com ele
Ou o mataria dentro de si
O bambu crescerá
E tomará mais e mais espaço, inevitavelmente
Matará a cerejeira e morrerá sem sol dentro do cadáver da que o salvou
O bambu deve morrer
E se não puder
Não há outra opção
Senão renunciar a si
E se fundir a ele, se tornar ele
E não viver por nada, senão ele
Morrer você, enfim, cerejeira
Se tornar uma escrava do impetuoso broto que a penetra

E como que ritualisticamente
Encorajando a cerejeira a tomar uma decisão
Espalhei meu sangue pela terra
Sangue paladino, sangue nascido para ser derramado

Para que a cerejeira o beba
E seja fria
Não deve achar que morrerá
Se matar a criatura que rasga seu ventre
Não ter medo

E se escolher se flagelar pelo amor
Que seja capaz de sustentar a escolha
Até que esteja fundida a ele

Nestas palavras, faço um tributo
Àqueles que amam seus parasitas
E ofereço, nestas palavras, meu sangue

Para que o bebam
E façam sua dolorosa escolha
Antes que se devorem de dentro para fora

E não reste nada senão a memória do que poderia ter sido

domingo, 10 de julho de 2011

Jóia negra do meu passado

    Poetizar anda difícil. Peço desculpas a quem quer que venha a esta estrada deserta na madrugada ler meus poemas, mas o ócio é uma das poucas coisas sobre as quais não consigo escrever, justamente por causa dele. Por isso, vasculhei a pasta "poesia" por antiguidades. Me lembrei que já tive problemas muito maiores do que falta do que fazer. E fiquei impressionado com como um poeta nem sempre cresce quando envelhece. Quem dera ter conhecido a mim mesmo há três anos... Infelizmente eu estava ocupado sendo eu.

Necrose

O silencio de mil facas
Gelo e sangue, ardor
Pulso
Pulso
Pulso
O grito de um corte
Frio gelo morte
Vermelho e azul
Pulso
Pulso
Pulso
Mil facas no gelo
O peito gelado pesadelo
A dor não se pode querer que aumente
Só a dor se pode querer que pare
Pulso
Pulso
Pulso
Lento, congelo
Mil facas corte flagelo
Chaga ferimento punção
Pele, pulso e coração
Pulso
Pulso
Pulso
Lento afundo
Caio no mundo
Conforme a punctura
Comigo ruptura
Basta de ser
Pulso
Pulso
Pulso
O homem mais feliz do mundo
É o que não sente nada
Pulso
Pulso
Pulso
Eu, aberrante
Só no Ártico gritante
Corto carnes tortas
Caem mortas
Pulso
Pulso
Pulso
Nietzsche está morto
Freud, louco
Platão não vê senão escuridão
Que vida vai valer?
Pulso
Pulso
Pulso
Não basta o universo
Na fome profundo, imerso
Um corte abre a vida
O outro fecha o coração

terça-feira, 5 de julho de 2011

A história do brasil como a tia mônica nunca viu





Pau do brasil

Quando os portugueses nos descobriram
Viram um monte de paus descobertos
Tantos paus tão visíveis
Grandes paus vermelhos
Quiseram tudo para si
Embora fossem cristãos
Exploraram os índios
Pegaram os paus
Paus que deram à nossa bandeira o verde
E fizeram os índios trocar seus belos paus
Por isqueiros breguetes bagulhos chaveiros
E mais tarde por bagassas

E começou a era das bagassas
Agora os portugueses comiam o fruto doce das bagassas
Para adoçar suas vidas
Ao custo de nossas bagassas
E vieram pelos pretos às bagassas
Tirar o doce fruto delas
Iam e vinham
Suavam e sofriam

Os portugueses abusavam de todos os nossos paus e bagassas
Até que decidiram entrar mais fundo
Entraram em nossas úmidas florestas
Onde ainda tinham muitos índios e paus
E acharam, abaixo da terra, abaixo dos paus
Acharam os bagulhos
E começou a era dos bagulhos
Os bagulhos sempre foram pequenos
Pequenos bagulhos dourados
Pegaram os bagulhos
Bagulhos que deram à nossa bandeira o amarelo
Aí acabaram os bagulhos
Mas no fundo em nossos ovos
Os Portugueses ainda buscavam pelos
Pelos bagulhos dourados
Enfim se convenceram de que não tinha mais

E ficamos num limbo desgostoso
Em ponto de bala
O português cansou e foi embora
Mas veio o burguês brasiguês tomar seu lugar

Quando as cabras começaram a comer breguetes
E ficaram doidonas de breguetes
Aí o breguete veio pra cá
E deixou todo mundo doidão
Drogão breguetão
O brasiguês começou a por e tirar
Enfiar na terra e levar embora
Só que não deixou a terra em paz
E ela arregaçou

Aí a coroa virou um quepe
Mas ninguém nem reparou
Estavam muito ocupados se fudendo
Se fudendo
Porque o drogão perdeu valor
Porque os usuários começaram a se comer
Mas é claro que tinha muito ovo
Pra brasigues procurar pelo
Botamos toda nossa bufunfa no drogão
E ela ficou doidona e sumiu mata adentro
Onde, pasme, ainda tinha pau!

Aí começaram os estrupos
Estruparam o cabra estorvaram eleitor
E ganharam
Aí as várzeas gastas
Mandaram todo mundo parar de estrupar
Que o país tava passivo
Deixaram maquina ativa
Porque a gente só dava pros europeus
Não ganhava nada
Aí veio um Juju Cubão
Depois um Jaja quadradão
Ai um Jojo gulão
E aquele quepe fedido voltou
E a gente voltou a dar
Sem ter vez depois
Só que a gente já tinha pau pra comer
E o pau comeu
Dái pra cá, só sarna hei de dizer que sobrou
Sarna e pau
Pau? Pau!
Desde que o português chegou
Pau é o que não faltou
Sempre teve bagassa meio sem pelo preto, meio com
E muito pau
Mas com tudo isso de pau
Ou a gente é precoce e acaba com tudo
Ou não rola
ê povo de extremos!