quarta-feira, 30 de maio de 2012

Nada a ver com cachimbos




Isto não é uma referência a Magritte.

Um susto, uma volta


Se o som de um sonho quieto
Derrete ao meu luar
Escondo-me no teto
Escuro do meu lar

Se a vida, muda, muda
O que o futuro encerra
Qual muda tão miúda
Que se depõe à terra

A primeira jogada
É um roque assustado
A rainha, calada.

Do tempo a louca escada
Eu trilharei mudado
Foi um xeque, e mais nada

domingo, 27 de maio de 2012

No room for true loves

True loves love

I miss
Taken

One room for all loves
One love for all misses
One choice
All regrets

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Três semanas. Dor.


Turmarina

Dois olhos brancos na noite escura
Nua, pura, quieta
Canta a flauta
Assovia viva
Me via vivo

Paz

E eu, culpado
Fera corrupta
Manchada de esperma e lagrima
Mefistofélico
Rico de alma pobre
Envenenado pelo níquel centávico
De moedas sinérgides
Roupado
Em ternos não ternos
Camisas de força
Calças falsas
Ressintos
Apertado ao último botão
Sufocantemente eu mesmo

Duas jóias meteóricas na noite escura
Interessadas, intrigadas, impressionadas
Estoura o violoncelo
Faz a cama rude
Fiz o que pude

Ai...

Rasgo-me
Rasgo-me nu
Das roupas que te emprenharam
A gestar olhos cheios
De um amor sem casaca
Rasgo-me do que disse
Do que fiz e vi
Rasgo-me de alguém
Que me tornei por você
Ternos frangalhos
Camisas fiapos
Calças farrapos
Assinto
Nu

Duas vívidas turmalinas no escuro do ser
Estáticas, extáticas, erráticas
Pontua o violino
Marina, poetiza
Marina poetisa

Nós


quinta-feira, 10 de maio de 2012

O caderno preto [47-47]

...

Nada é perfeito nesta vida
Não importa o tempo ou o espaço
Nada vale sua pena, enfim
Por isso, onde estou, nada faço

Digo que tudo neste mundo
No nada deve geração
o universo e só um rol de corpos
nada fazendo em comunhão

E Nietzsche, que nunca fez nada
morreu infeliz e sozinho
Mesmos nas carícias do amor
nada se quer com o carinho

nada na vida é muito bom
Até o homem com mais dinheiro
será miserável sem nada
nada comprará prazenteiro

O homem vive buscando nada
Homens por nada morrerão
Deus criou os homens para nada
E os homens nada farão



Eu queria falar de sexo
Mas falar de sexo é furada
Então já que estava falando
Achei melhor falar de nada

O caderno preto [46-47]

Reenvolução

Abro a boca e calo a mão
Frente a um mundo de vileza
Rosno ao meu espelho
Ponho as dúvidas no chão
Questão faço de certeza

Me balanço na fronteira
Entre Che Guevara e Ghandi
Em luto vermelho
Dor do mundo na algibeira
Ando o que o mundo desande


Eu ponho de lado o choro
E encarno a diligência
Dispenso até a fé
Com a renúncia sem decoro
Com a tradição sem clemência

Até que se inverta a pista
Que se turbilhone o fado
lutarei até
Que o último violinista
Caia do último telhado

Notas espremidas num caderninho cotidiano [3-3]

I

Eu queria amar a três
Vida a dois é tão vazia
Diz-me a amada, por sua vez
"Três varia, três varia"

II

Que tédio esta encruzilhada
Espero o tempo passar
Ele tem mula aleijada
Ele passa sem andar

III

Se o sol bate em solavanco
Negro canta em oito ou nove
Não é a toa que o homem branco
Só troveja quando chove

Notas espremidas num caderninho cotidiano [2-3]

O que a mente cometeu?
O avesso de mim é mim
Ué? O avesso não é eu?
Por que a gente pensa assim?

Notas espremidas num caderninho cotidiano [1-3]

Quero-te em nossa casa
Filha, uma bemformação
De um bem-cuidado que vaza
Ao caos-colosso sertão

Jardins de hortênsias no extenso
De uma gramada vazia
Você de chapéu e lenço
Na entrada de cantaria

Retorno em marcha estradeira
Sobre um calmíssimo equino
Ao refúgio de madeira

Casinha alta sem beira
O derradeiro destino
De uma vida solta inteira

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ao mais fraco, logo mais amor.

Angor

Eu não amo você
Pelos tempos passando!
Pela mente gravítica
E essas tripas dançando!

Eu não amo você
Amar amo meus pais
O tempo só matura
O que o deixa em paz

Eu não amo você
As palavras trocadas
Em gravidade zero
Dançam quase intocadas

O amor é um laço transetéreo
Que quanto mais é revelado
Mais se transforma em um mistério

Se eu amo você
Quem sou eu, quem és tu?
Por que logo a te ver
Devo o amor comer cru?

Se eu amo você
Como é que se ama
Quem em vidas não inflamou
Quanto hoje tu me inflama

Se eu amo você
Quem você então seria
Tão pouco que foi dito
És só concha vazia

O amor é do tempo o inverso
Mais duro é um quilo maciço
Que o pó todo deste universo

Se não amo você
No meu amor não entre!
Mentiras que me conto
O que grita meu ventre

Se não amo você
Pelo tempo passado
Como ama-se o bebê
Que nasceu maturado?

Se não amo você
Quem amaria então?
Um silêncio em princípio
Vazio de vida, vão?

O amor é uma concha vazia
Mais amor finda a ser a concha
Que bebe o vácuo e se inebria

Sim eu amo você
Por tudo o que já amei!
O que se desgraçou
E o que vive por lei!

Sim eu amo você
Que o mundo já pulsou
Que em quarenta bilhênios
Este amor maturou

Sim eu amo você
Que a voz é mentira
Mesmo se diz "amor"
Só o amar amor vira


Minha testemunha seja Baco
Amar Hefesto e amar Ares...
O amor só existe quando é fraco