Fluxo
Antes de nascer
Sentei-me no colo do Algo Mais que Houver
E pedi felicidade infinita
O Pai do Vir a Existir, AMH,
Disse que só havia um preço a pagar
Durante toda a minha longa e feliz vida
Quando eu me mexesse,
Meu sangue coalharia nas veias
E, coalhado,
Me mataria.
Como tantos,
Vim à terra destinado, portanto, à vida feliz
Simples, frágil, e feliz
Como os que pedem algo assim
Eu era não pouco avoado
Mas algo surgiu
Que talvez (quem sabe) nem o AMH esperava
Uma porta
Uma possibilidade, uma medula
Bastou uma inspiração de coragem
E cortei-me com voracidade
Jorrou pouco sangue
Voracidade foi pouco
Cortei-me com violência
Com euforia
Com indiferença
Mutilei-me
E logo, começou a bastar
Antes do sangue coalhar
Eu o renovava
A dor pungente, por um segundo me preocupou
Mas AMH cumpriu sua promessa
E logo a dor também era feliz
Pois que tudo é
Entrei em uma faculdade de engenharia
E decidi dedicar minha vida à labuta
Enlouquecer de ofício, explodir de ocupação
E tão rápido quanto tente coalhar meu sangue
Duas vezes mais escorrerá de mim
Mas não acabará
Pois quatro vezes mais rápido será regenerado
Pela medula impaciente
Sathya
Mãe da minha unicidade
Que me deu uma medula infinita
Assim, num fluxo eterno de sangue à terra
Esvazio meu corpo da pena
À insignificante custa de uma silhueta de dor
Se AMH esperava isso
Sabia, ou nem desconfiava
Ou se ele realmente Há
Não se pode saber
Mas não reprimiu meu sucesso
E assim sou infinitamente trabalhador
Por ser infinitamente feliz
E infinitamente feliz
Por ser infinitamente regenerante
E infinitamente regenerante
Porque se não houver Algo Mais, Sathya
Você há, sem dúvida.
"E o sangue que derrama?"
Me perguntaria um jovem politécnico sofredor
Ora, acha que eu escrevo com tinta?