domingo, 26 de setembro de 2010

Pedra Fria

É impressionante como a visão de qualquer coisa que minimamente se assemelhe a um sonho seu o acentua infinitamente. Oito garotas em uma limusine é uma imagem corriqueira na mente de um sonhador extremamente ginéfilo como eu, e como tantos de nós homens tolos e submissos; mas infelizmente todo sonhador tem, mesmo que se esqueça, dois pés num chão muito real, e dá a esse chão mais valor do que pensa. Normalmente aqueles que se adaptam bem não tem problemas com conciliar sonho e realidade, em geral porque sabem distinguí-los perfeitamente. Mas as vezes a realidade faz provocações ao sonho, por exemplo quando uma limusine com oito garotas passa ao seu lado numa madrugada amorfa de sábado.
É o tipo de górgona cruel o suficiente para desorientar o sonhador, e fazer com que ele busque na realidade o sonho, se frustre, e retroceda à sua petrificação dentro de si como eterno sonhador.
É claro que eu estou dramatizando um pouco a coisa, mas é meu estilo. Este poema Nosphoros tem uns cinco minutos de idade, ainda dá para sentir o cheiro de lírica fresca, e é baseado em angústias reais que aconteceram há sete, oito horas atrás.

Górgona


O olho treme
Mudo
Cala a euforia
Cala tudo

Troveja luz
Absorve
O olho transfixo
A sorve

Infinitos sonhos
Eclodem
Da luz, e os olhos
Implodem

Do universo
Se solta
Uniões desmancha
Não volta

Vício total
Em sonho
Real se torna
Enfadonho

Egovital
Petrifica
Só a sonhar
Então fica

Morto ao mundo
Pedra fria
Mente cheia,
Alma vazia.


A vida do sonhador não é um sonho de vida, tem suas desvantagens, mas a experiência ainda me diz que se bem organizada, da qualidade e razão ao viver.

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