segunda-feira, 10 de junho de 2013

Do queimar

Cinza é cinza, fumo é fumo

Tudo o que é vivo
Incandesce
Luminesce
Em gás vermelho explosivo

Um sol de soletude em terra
Da cor do fim da tarde
Arde
Crepita, berra

Irmana, no braço do homem
luz e fumaça
Cada qual, sonho passado, esvoaça
Sonhos realizados que somem

Cinza é cinza, fumo é fumo
cinza que sai, sai fumaça
Fumo que passa
Os dois cinzas sem rumo

E o que é ser cinza
De sinérgide massa
Que tudo, amorosa, abraça
E tudo despreza, ranzinza?

E o que é esvoaçar
Conhecendo o Universo
Construindo seu inverso
Mergulhando no vaio do ar

E o que é ficar
Sobrevir à incandescência
Fixo até a intumescência
De um viver que explodiu ao ar

Cinza morta
Nada que come o tudo
Imersa em sonho mudo
Que se aborta

Cinza é cinza, fumo é fumo

Cinza viva, cinza ovo
Que minha cinza é coque
Não descarte, estoque
Que eu vou queimar de novo!

Rica de carbono forte
Quer que o fogo repita
De tesão pírico crepita
Aversa à morte

Sabe que o fogo segundo
Que brota da cinza moída
Deixa os fumos terem vida
E com ele aerem o mundo

Em sumo
Deixe o fumo à sua via torta
Que a cinza está menos morta
Cinza é cinza, fumo é fumo

Nenhum comentário:

Postar um comentário