segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Em resposta a Débora Vieira

Pétria

Do puro golpe vulcânico
De um Deus Sísmico
Nasce a pedra

Pedra, mãe do Universo
Imóvel como deve ser o que é perfeito
Mover-se? Morrer-se!

Ser pedra é estar no meio do riacho
E não barrar o riacho, mas desviá-lo
Dizer a ele que fique parado

E não ouvir a resposta

Palavras Cruzadas 2

A          R          V          O          R          E          S

R          A          I          V          A          M          E

V           I          V          O          T          E          S

O          V          O          M          O        V          O

R         A          T          O          S           O          U

E         M          E          V          O          A         M

S          E          S          O          U          M          E

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sorte, imperatriz do mundo

  Pela primeira vez, estou postando um texto alheio. Pertence à cantata Carmina Burana, de Karl Orff. A música é famosa, mas descobri recentemente que carrega consigo um poema maravilhoso, digníssimo deste blog, mesmo não sendo meu. São pensamentos meus.
   O canto se chama Fortuna Imperatrix Mundi, ou seja,
   Sorte, Imperatriz do mundo.






[1]

Ó, fortuna
És como a lua
Mutável
Sempre cresces
E descresces
A vida é detestável
Hora escureces
Hora curas
As mazelas da mente
Os miseraveis
Os poderosos
Tu dissolve como gelo

Sorte brutal
E vazia
tu, roda volúvel
És má, és vã
É a felicidade
Sempre dissolúvel
Nebulosa
E velada
Também a mim envolve
Agora, em jogo
O dorso nu
à tua perversidade entrego


A sorte na saúde
E na virtude
Agora me é contrária
E tira
Sempre mantendo-me escravo
Nesta hora
Sem demora
Tange a corda vibrante
Porque a sorte
Abate o forte
Choremos todos!

[2]

Choro as feridas da fortuna
Com os olhos rútilos
Pois o que ela me dá
Perversamente me tira
É verdade o que se lê
Essa bela cabeleira
Quando se-a quer tomar
Mostra-se calva
É verdade o que se lê
Essa bela cabeleira
Quando se-a quer tomar
Mostra-se calva

No trono da fortuna
Sentava-me no alto
Coroado por várias
Flores da prosperidade
Por mais próspero que eu fosse
Feliz, abençoado
Do pináculo agora despenquei
Da glória privado
Por mais próspero que eu fosse
Feliz, abençoado
Do pináculo agora despenquei
Da glória privado

A roda da fortuna girou
Desço rebaixado
Outro é guiado ao alto
Demais exaltado
Rei sentado no cimo
Previna-se contra a ruína
Porque no eixo se lê
Hécuba é rainha
Rei sentado no cimo
Previna-se contra a ruína
Porque no eixo se lê
Hécuba é rainha



     Interessante lembrar que Hécuba era a rainha de Tróia, um reino que, por mais exaltado que fosse, caiu, vítima da fortuna.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Our boggarts, our fears, our prejudice

War on war

The names of hate
Are the demons of the sad
The boggarts we create
Under the peace of our bed

The words of death
Are the self-preservation
Of a child on fear meth
Eaten by the bed of desperation

The ears of teaching
Are the word that spreads
By child fathers preaching
The darkness under the beds

The strong cogs of war
Are two beds in reverse touching just by the feet
And the boggarts that lie in the middle void are
Just the names of our fear that we will never meet

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Relíquias esquecidas numa folha velha [3-3]

Comédia

Ó Dante, irmão!
Como ti, os vi, os mortos!
Ai, meu coração!

Virgílio foi teu
Guia nos caminhos tortos
E fostes o meu

Levou-me ao profundo
Ver almas de pecadores
No abismo do mundo

Nós vimos então
Penas de indizíveis dores
Sobre gerião

Chorei na Judeca
E mestre, me reprimiste
Chorar por quem peca

Então desçubimos
Pelos pelos do rei triste
E de lá saímos

Subimos montanha
Onde os que purga pediram
Recebem por manha

Ouvimos corais
Dos gratos que não caíram
E felizes ais

Vi invejosos cegos
Glutões, tântalos famintos
E os de inflados egos

Nos jardins do Éden
Infindos frutos distintos
À morte não cedem

E eis que, mestre Dante
Deixa-me aos cuidados Dela
Dama rutilante

Nadia é seu nome
Leva-me ao céu em luz bela
Logo a terra some

Por áureos espaços
Cantos de verdade vi
De almas em enlaços

Aos olhos mortais
Por bem, amor, não sorri
O brilho é demais

Logo eu, pré-funéreo
E os julgáveis olhos meus
Contemplam o etéreo

Mais alto possível
Me afaga a imagem de Deus
O resto é indizível

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Relíquias esquecidas numa folha velha [2-3]

(o terceiro poema da folha está incompleto, mas é lindo. Pesquisarei um pouco para escrever os versos finais e postarei logo em seguida)


Garganta furada

Sou um eremita
Apaixonado
Derreto-me em prantos pois esse amor
Não sei fazer falado

Passei infinitas eternidades
Trancado no pensar
E me esqueci
De como falar

Amor maldito
Que me exige tanto papo furado
Eu não posso amar
Só com o essencial falado

Fico balbuciando
Em mim tropeçando
Sou rejeitado
Sou o único com o bem me preocupando

Relíquias esquecidas numa folha velha [1-3]

Fui trocado na maternidade
Solidão apareceu
Em trabalho de parto
E como sofreu
Pois a luz a mim
Sozinha deu
Acostumada a não ser vista
Lavou-me numa pia
Virou, quando olhou de novo
Ela estava vazia
Só chorei aí
Quando vi o primeiro ser
Quando tive que com mil
Recém-nascidos conviver
A enfermeira me levara
E me pôs na cama errada
Na cama de uma pessoa
Que não fosse tão calada
E a que hoje chamo mãe
Foi então me receber
Solidão achou um outro
"É o meu? Quem vai saber?"
Desde então eu vivo assim
Sempre entre dois caminhos
O dos sempre acompanhados
E o dos sempre sozinhos