quarta-feira, 29 de junho de 2011

Na(r)t(e)ureza



Os passos que traçam espaços
Passam pouco pensando nos traços
Os passos que fazem espaços
Tracejam como pássaros

Ah, como são escassos esses passos
E abundantes aqueles traços

E como é uma jóia passejar
E como se passeja como quem não traceja
Sem notar
Que não há passo sem traço
E que isso faz o espaço
Vazio
Mas potencialente cheio
De passo
Espaço
E do mais belo traço

Uma árvore produz mais de 70 mil folhas de papel
Em uma folha de papel cabem, no mínimo, 15 poemas

As árvores são milionárias poéticas
E jogamos esses traços
Nos passos não passados
Nos passos futuros não futuros
Enfim
Nos passos que não passarão
Que nem são passos nem haverão traços
E assim
A natureza bebe a si mesma, entediada
De uma eternidade
Cuja monotonia a arte não tem a força de quebrar

A natureza não passa
É o homem que deve passar por ela


sábado, 25 de junho de 2011

Poemas rabiscados nas paginas de "A cinza das horas" [5-5]

Um feliz dia dos namorados
Aos que namoram
E aos que querem namorar

E aos que nem namoram nem querem,
Bem,
Aproveitem enquanto dura

Poemas rabiscados nas paginas de "A cinza das horas" [4-5]


O coração
Como todo músculo
Estira
Se bater demais

Poemas rabiscados nas paginas de "A cinza das horas" [3-5]

Microvida

A vida minha
Num forno de micro-ondas
Artificialmente
Aquecida, iluminada,
Roda desgarrada
Estirada
Alavancada
Imersa no nada
Dispersa, agarrada
Num cabo de enxada

E, jurisprudentemente
Dura quase menos de três minutos

Poemas rabiscados nas paginas de "A cinza das horas" [2-5]


Jazida de poesia

Pa
Lavras

Poemas rabiscados nas paginas de "A cinza das horas" [1-5]

Minha poesia

Certo dia
Meu ego
Sem camisa, de óculos escuros
E sujo de caldo de feijão
Veio me dizer
Que a poesia que escrevo é ruim

Eu, de roupão e dentes escovados,
Inicialmente discordei,
Discuti, argumentei,
Botei os gnomos no meio

Teria partido no tapa
Com meu próprio ego

Mas surgiu
O mais inesperado
Dos amigos
Meu ID
Vestindo um cacto e um falo
Com um olho furado
Por uma caneta gasta
Acompanhado por seu infinito
Harém de terracota
E disse, cuspindo sílabas:

“Não é 'a poesia que escrevo'
É a 'minha poesia'”

Nunca vi criatura mais envergonhada
Que meu ego naquele momento
Sem camisa
Escondeu o rosto em Manuel Bandeira
E correu
Como se pudesse deixar
A humilhação para trás

Desde então, ando escrevendo mais.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

UMA

Um poema que ouso publicar. Edito-o com frequência então não estranhem se o virem diferente no futuro.

Amo-o como amo à beleza de ser simples de tão complexo, beleza característica de três coisas: o Universo, a Mulher e o Amor. Na verdade, as três são UMA.




Suave

A viagem há, viável à vida
A viva via vivia, vi vida

Aves ávidas a vir à vida
A visar vidas, a virar vida

A viver a vívida vivida vida
Ave ver, ave e vida, vive da vida

A vista avista aves tantas
Vôo, ar, voar, Vôo à árvore

Vi da vida a vinda, “vim dar vida”
Vida vi, da vinda, vida vi.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Nietzsche, e aos que já sabiam.

A metáfora negra

 Ao assistir um pregador
Conservador imperialista
Na lista de ódio e um só amor
Te vi, metáfora mefista

Pelas raízes da moral
Um mal quieto a dominar
No mar de amor cego total
Está orgulhosa de pecar

Tão silenciosa entre os seus
Nem ele vê que a cometeu
Vem dos passados europeus

O mundo inteiro corrompeu
E toda vez que disser "Deus"
Estará enfim dizendo "Eu"