Os passos que traçam espaços
Passam pouco pensando nos traços
Os passos que fazem espaços
Tracejam como pássaros
Ah, como são escassos esses passos
E abundantes aqueles traços
E como é uma jóia passejar
E como se passeja como quem não traceja
Sem notar
Que não há passo sem traço
E que isso faz o espaço
Vazio
Mas potencialente cheio
De passo
Espaço
E do mais belo traço
Uma árvore produz mais de 70 mil folhas de papel
Em uma folha de papel cabem, no mínimo, 15 poemas
As árvores são milionárias poéticas
E jogamos esses traços
Nos passos não passados
Nos passos futuros não futuros
Enfim
Nos passos que não passarão
Que nem são passos nem haverão traços
E assim
A natureza bebe a si mesma, entediada
De uma eternidade
Cuja monotonia a arte não tem a força de quebrar
A natureza não passa
É o homem que deve passar por ela