segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Poemas feitos num carro escaldante numa madrugada de Jazz (2-2)

Esferismo

No mais curado silício há carvão
No mais estéril corpo há levedura
No mais saboroso mel há amargura
No mais real relato há invenção

Não há profissional sem ignorância
Não há altruísta sem egocentrismo
Não há ateu sem algo de teísmo
Não há simpático sem arrogância

“Nada é perfeito, faça o que fizer”
É o que esse lírico-eu então me diz?
Pois dou-lhe algo perfeito, se assim quer

Desafio ser humano qualquer
A achar, nem que seja por um triz
Parte chata no corpo da mulher

Poemas feitos num carro escaldante numa madrugada de Jazz (1-2)



Tântalo do amor



Sou eterno amante
Sou, eternamente
Amo o que está adiante
Só por estar em frente

Em um calabouço
Deus Amor me traz
A razão não ouço
Sou fera voraz

O amor que me come
A amada vê inteiro
A assusta minha fome
Me deixa solteiro

O amor me fez Tântalo
Vejo o desejado
Mas minha mão espânta-lo
E eterno é tal fado

Sisificamente
Me iludo, porém
E amo na mente
O que a alma não tem

Mesmo ela vazia
Eu nunca percebo
Que o que me sacia
É mero placebo

Covarde minhoca
Assim, cego sigo
Até que minha toca
Se torne jazigo

sábado, 22 de janeiro de 2011

Profanidades, sexo e imaginação

Idracional

A voz mais voraz, borbulhantemente
Do âmago do ventre explode um vazio
Grito,convulsão, obsessão, cio
Impera tirano o Desejo ardente

A fonte do cio, a moça inocente
Seu seqüestro aquele ordena, doentio
Suas roupas eu rasgo, arranco, desfio
Em louco furor a estupro na mente

Mas mesmo em meu sonho ela sofre espasmo
Falso é seu desejo, acre é seu gemido
Triste e sem amor é enfim seu orgasmo

Volvo-me de volta a mim, quieto e pasmo
Desejo é deposto, o moral partido
Deixa irremediável, triste marasmo


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Observação surrealista de um monge paulistano

Primeiro bater de um coração após uma infeliz notícia do relógio


Templode
Errstillhaça
Big bang ao avesso
Um único ponto
A tremedeira do erro
E não há mais
A fina linha estoura
O ponto implode e torna-se
Nada
E tudo segue o Deus-ponto
Mil mims estribucham no vazio
No fim do que não começou
E as pálpebras despencam

De um excesso mais que comum


Auto-imune

Desde os tempos em que eu era menino
Ouvia, não do pai, da televisão
Não contos de bruxa e bicho papão
Mas de ladrão, estuprador, assassino

Bola-tatu, hoje esbanjo a fartura
Em segurá-la, paradoxalmente
Meu temor confirmado, de repente
Eis que percebo ao abrir a fatura

Me roubou meu condomínio fechado
Me assaltou meu grande carro blindado
Me furtou meu existir segurado

Me estuprou meu droguismo hipocondríaco
E antes de ver que era eu o maníaco
Me assassinou meu estresse cardíaco