quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Matrioshka

Eu, em tempos de Ser sem viver o abrigo, tantas vezes de mim mesmo nativo
Eu, que no horror maciço do próprio umbigo, sou etéreo e subjetivo
Eu, oco de potência e atento ao perigo, me faço ativo
Eu, em espaços públicos me litigo, vivo
Eu, grávido de meu tranquilo jazigo, vivo
Eu, que ao Uno não me fustigo, vivo
Eu, prazer consigo, vivo
Eu, sigo, vivo

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

En fim

No tempo do avô do mundo

Quando o sol deitar-se no escuro
E permitir-se fenecer

Quando Hebe envelhecer
E nascermos ao pé da morte

Um tempo de matéria escura
Em clara senescência

Um tempo terminal
De ceticismo cênico

Quando o vento sentar-se ao topo de uma colina
E adormecer morto

Um tempo de ordem policromática
Vibrando a suavíssima morte entrópica da morte

A arte poderá descansar

Tempo de um crepúsculo
Desfalecendo de extenuado

Cansado de ser...
Sem tristeza ou adeus

Apenas o alívio
De vir-a-ter-sido

Em que o último estarrecimento
Fechar os olhos em conformidade

E todas as mentiras forem claras
E tudo que for claro, for mentira

Um todo artisticamente caótico
Ou artisticamente ordenado

Convergindo de ambos
Ao perfeitamente contínuo

Insatisfatório por definição
Aberrante por encarnação

Infinitas artes
Tornando-se A Arte

Entidade horrenda
Única herdeira do fato de ser

Longevidade mumificada
Magnum opus de um Universo

Desnutrida de motivo
E de falta de

Um abcesso de tempo
No último diminuendo

A estridência de um recém-nascido
Único sobrevivente da bomba atômica

Obviamente, fadado a morrer
Como o pedaço de lixo fetal que é

E o ar lhe falta

Descendo do certo
Pesando as pálpebras

Perdendo densidade
Desvanescendo sons

Até que haja uma pluma
Sobre os ombros de Atlas

E até que Tudo possa ser quase Nada
Livre de Extudo

E, quando o último grão de carga
Sucumbir à longevidade Tetrafundamental

Quando A Arte conhecer
Por primeira e última vez

O clímax da estafa
Se só há cansar e morrer

A Arte vai morrer
E quando A Arte morrer

E a lárgima da perda
Vaporizar-se em sorriso

E o Tempo
Aniquilar-se em Éter

E a ultima arte na Arte
Perder a ultima gota de qualia

E a última lasca de algo
Der seu último grito de esperança

E o acorde de Tristão
Amanhecer irresoluto

Haverá silêncio

Um silêncio hermético, estático, verdadeiro
Um silêncio-nada, além do inalemnável

Um silêncio pecado e perdão indissociáveis
Um silêncio afásico, catatônico, Abhavico

Um silêncio que não é silêncio
Enquanto silêncio for palavra falada

Um mais-que silêncio
Mais-que-meditativo

Um silêncio adimensional
Onde não caiba um caber que caia de cansaço

Um silêncio esférico e sincero
Em que confluam os nadas

A uma chance entrópicamente limítrofe
De 100%, de silêncio

De 100% de silêncio

Mas a lenda
Que nenhum livro poderá contar

O saber que não se virá a saber
A Divindade de uma nuca ao espelho

É que o silêncio é arte

Mais do que uma manobra de John Cage
De quatro minutos e trinta e três segundos

Uma manobra que ninguém fará
E que, por isso, será eterna

A verdadeira última arte
A mais bela, a única bela

O sumo verdadeiro de existir
O princípio, razão e propósito

Pois só há beleza no que há
E o que há é finitude

Pois só há beleza na finitude
E o silêncio é o nome da finitude

Pois só há beleza no silêncio
E o silêncio não há

E assim, aniquila-se a última palavra

































































































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