No tempo do avô do mundo
Quando o sol deitar-se no escuro
E permitir-se fenecer
Quando Hebe envelhecer
E nascermos ao pé da morte
Um tempo de matéria escura
Em clara senescência
Um tempo terminal
De ceticismo cênico
Quando o vento sentar-se ao topo de uma colina
E adormecer morto
Um tempo de ordem policromática
Vibrando a suavíssima morte entrópica da morte
A arte poderá descansar
Tempo de um crepúsculo
Desfalecendo de extenuado
Cansado de ser...
Sem tristeza ou adeus
Apenas o alívio
De vir-a-ter-sido
Em que o último estarrecimento
Fechar os olhos em conformidade
E todas as mentiras forem claras
E tudo que for claro, for mentira
Um todo artisticamente caótico
Ou artisticamente ordenado
Convergindo de ambos
Ao perfeitamente contínuo
Insatisfatório por definição
Aberrante por encarnação
Infinitas artes
Tornando-se A Arte
Entidade horrenda
Única herdeira do fato de ser
Longevidade mumificada
Magnum opus de um Universo
Desnutrida de motivo
E de falta de
Um abcesso de tempo
No último diminuendo
A estridência de um recém-nascido
Único sobrevivente da bomba atômica
Obviamente, fadado a morrer
Como o pedaço de lixo fetal que é
E o ar lhe falta
Descendo do certo
Pesando as pálpebras
Perdendo densidade
Desvanescendo sons
Até que haja uma pluma
Sobre os ombros de Atlas
E até que Tudo possa ser quase Nada
Livre de Extudo
E, quando o último grão de carga
Sucumbir à longevidade Tetrafundamental
Quando A Arte conhecer
Por primeira e última vez
O clímax da estafa
Se só há cansar e morrer
A Arte vai morrer
E quando A Arte morrer
E a lárgima da perda
Vaporizar-se em sorriso
E o Tempo
Aniquilar-se em Éter
E a ultima arte na Arte
Perder a ultima gota de qualia
E a última lasca de algo
Der seu último grito de esperança
E o acorde de Tristão
Amanhecer irresoluto
Haverá silêncio
Um silêncio hermético, estático, verdadeiro
Um silêncio-nada, além do inalemnável
Um silêncio pecado e perdão indissociáveis
Um silêncio afásico, catatônico, Abhavico
Um silêncio que não é silêncio
Enquanto silêncio for palavra falada
Um mais-que silêncio
Mais-que-meditativo
Um silêncio adimensional
Onde não caiba um caber que caia de cansaço
Um silêncio esférico e sincero
Em que confluam os nadas
A uma chance entrópicamente limítrofe
De 100%, de silêncio
De 100% de silêncio
Mas a lenda
Que nenhum livro poderá contar
O saber que não se virá a saber
A Divindade de uma nuca ao espelho
É que o silêncio é arte
Mais do que uma manobra de John Cage
De quatro minutos e trinta e três segundos
Uma manobra que ninguém fará
E que, por isso, será eterna
A verdadeira última arte
A mais bela, a única bela
O sumo verdadeiro de existir
O princípio, razão e propósito
Pois só há beleza no que há
E o que há é finitude
Pois só há beleza na finitude
E o silêncio é o nome da finitude
Pois só há beleza no silêncio
E o silêncio não há
E assim, aniquila-se a última palavra
.