sábado, 18 de maio de 2013

Bandeira ao contrário


Encanto


Eu faço versos como quem ri
De puro alento, de grande encanto
Abre meu livro, se por agora
Lhe resta motivo algum de pranto

Meu verso é sexo, volúpia ardente...
A paz é esparsa e o ódio é vão
Salta nas veias, doce e contente
Cai, gota a gota, no coração

E nesses versos de alegria louca
Assim aos lábios vai beijo altive,
Deixando um morno úmido na boca

-Eu faço versos para quem vive



http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/desenc.htm



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Arteísmo



Arteísmo

Ser cético e fazer arte
Que loucura juramentada!
O trabalho que não dá
Ir ao nu do universo
E voltar com belas roupas
Que trabalho que dá
Ver beleza no incerto
Cozinhar a arte em forno de cera
E tirá-la limpa
que se tiver de limpá-la
Será em chorume de cadáveres

Ser cético e fazer arte
É tirar perfume de pus
Ao rendimento pífio
De uma pluma por cão
E fazer malhas de pelos curtos

Ser cético puro
Se absolver das causas e dos efeitos
Ver-se mosca e sorrir-se mosca
Ver-se Deus e não sorrir
Porque, mosca, ziguezagueia?
Porque, Deus, Zaratustreia?

Simplificando as coisas
Que tipo de idiotas somos?
Ser cético sim
Mas fazer arte?

Um ladrão escuro na noite escura
Espia o crente que dorme
Num golpe de fome
Fura-lhe o peito inflado
Cérebros de pedra
Labirintos hepáticos
Ardores sangrentos
Coisas de crente
Nada importa ao nosso duas-caras

Rouba-lhe o coração
Frágil
Mas rico da mais universal das substâncias
O critério
Pai bastardo do império
Que é o tem-de-ser

Espreme o coração crente
Seca-lhe de sangue impuro
Orgulhoso, imperioso
Cura a casca seca
Com a mais franca e humilde permissividade
E recheia o órgão seco
Com as carnes do nunca-ser

E faz das tripas coração
E do coração, a mais insana das artes
Eternamente ladrão
Um órgão escuro na noite escura
Vivendo lirismos emprestados
E protegendo suas podres certezas
Imprestáveis
Sem critério
No amor do mais fiel dos fieis

Só não se limpa de fé
A arte do cético
Essa, por mais fina que seja
É a casca que no amor do cético sobeja

Dispensável
Após a cura da arte
Mas impregnada sem cura
À arte

E o tem-de-ser-não-sendo
O paradoxo de amar uma estatística
De amar a ausência de amor
E assim ter amor
É essa a suma obra
Do artesão cético

Meu sangue é pura linfa
Minha carne, podridão
Meu cérebro é um circuito elétrico
Com interruptor no coração

Uma parede escura na noite escura
A inevitável beira do certo
Da qual saltamos com asas falsas
Rumo ao simplesmente-escuro

Ser essa tautomeria
Ser, essa tautomeria
Ser, essa doença sem cura
Ser, essa bênção sem princípio
Ser um Deus escuro na noite escura