terça-feira, 30 de novembro de 2010

A causa que me move

Planeta Bolor

Uma lágrima verde
Caiu no meu colo
Humilde, honesta
Só pedindo
Pedir? Existe o pedido!
Mas não ao Sapiens
O Sapiens manda

O Sapiens mandou o lago secar
Exportou mil banhos para tomar
Falseou o ar e logrou a terra
De verde tapete venceu a guerra

O clima esquentou
O sapiens não se acalma
O mundo é infinito
O bicho não tem alma

O mar ganhou o olho roxo
A purga veio à vida e terra
E as escrotas excretas de espólios
Obliteradas por terracotas bovinos
O falso ar a confundir o verdadeiro
Nas praias do ártico, moleza é moda
Nosso carbono é preto, não marrom

Pare o mundo, antes que não reste som

sábado, 13 de novembro de 2010

Objetivos

     Eu ando meio sem inspiração. Com os estudos de Mecânica e Cálculo Numérico, nas quais estou pendurado, as constantes requisições da minha namorada, apresentações de teatro no fim de semana, dar carona a várias pessoas da família, sobra pouco tempo para relaxar e fazer uma das coisas que eu mais gosto na vida: sonhar.
     Mas isso faz parte. Eu de longe acho arte mais divertida do que engenharia, mas até aí, se medíssemos nossas vidas exclusivamente pela diversão, ninguém trabalharia. O prazer é apenas um dos fatores que me leva a decidir meu foco. Eu acredito no poder transformador da arte, mas não acho que eu o exerceria tão bem quanto o poder transformador da engenharia. Isso porque quero também mudar a imagem que o mundo tem do engenheiro: aquele homem frio e calculista que faz tudo visando o dinheiro. Não nego que eu quero ganhar muito dinheiro, mas é sem dúvida para poder doá-lo ou investí-lo em causas com as quais me identifico.
    Eu sou utilitário. Para mim, pagar um homem para distribuir ecobags surte o mesmo efeito de distribuí-las você mesmo. Aliás até melhor, pois você emprega uma pessoa e ela própria ganha muita consciência ambiental. Pretendo ser muito, muito bem sucedido, para poder doar muito dinheiro para causas sociais de emergência, auxilio a epidemias e surtos de desnutrição; causas ambientais como tratamento de água, preservação da biodiversidade, reflorestamento, prevenção ao desmatamento, regeneração de solos, entre inúmeros outros; e investir em tudo o que seja ambintalmente correto: carros elétricos, energia limpa, educação de qualidade, saúde no âmbito internacional, e é claro, investir esforços artísticos na humanização da humanidade, como um hobby, mas mais do que isso.
     Foi essa missão, que eu chamo de "The Duty" no meu dicionário individual, que me inspirou a escrever sobre a consciência de um homem do lugar ao qual pertence, e da escolha pela humildade em favor desse lugar.

O valor da pedra

O silvo da picareta
E a preta pedra estilhaça
A massa cede, respira
Estira a caverna, espaça

Suor no torso desnudo
Mudo a fitar chama fria
Vazia a mente tão bruta
Labuta, espaço cria

A ferramenta que cava
Trava na mão ofegante
Perante homem tão voraz
Jaz milionário diamante

Com uma expressão de gosto
No rosto, o colhe do chão
Então desata a sonhar
Com mar de camas e pão

Num movimento robótico
Neurótico, irracional
Tal jóia, em ato sem volta
Solta sobre um aguarral

ao vê-la ir, ele entende
Se a vende não vai voltar
ao lugar que é de seu fado
abandonado a cavar.


    Aos que lêem meu blog, sejam muitos, poucos ou nenhum, quero agradecer pelo interesse e pedir que, se possível e desejado, se identifiquem, comentando ou postando no meu facebook:


De qualquer maneira, obrigado mesmo pelo interesse.


sábado, 6 de novembro de 2010

O buraco negro inerente a nós

Hoje eu comi demais. Grande novidade. A fome e a comida sempre foram, de uma certa forma, espiritualmente menosprezadas. De fato, parece estranho associar qualquer coisa espiritual com um hamburguer, mas todo homem sabe, no fundo de sua herança selvagem, que mesmo o amor compete com a fome como os mais fortes sentimentos de um homem. A fome, mesmo a fome por alimentos, é um buraco negro que, mesmo preenchido, voltará, e se não preenchido, crescerá até consumir tudo o que faz a vida valer a pena. Se a razão estiver no caminho, a fome enlouquece o homem. A comida, então, é a forma do homem de adiar a desgraça da fome, do desejo por mais.

Há outros tipos de fome. Mesmo dentro do mundo físico e animal, existem outros tipos de fome, como o desejo voraz e incansável de um homem por sexo. De certa forma, todo sentimento é um tipo de fome. A raiva é a fome de conseqüências a causas abertas, o amor é uma fome de si mesmo; o medo é a fome de não saber, e a curiosidade, mãe da ciência e da arte, é a fome de saber. A religião é fome de Deus, o ódio é fome de vingança, a própria busca pela felicidade é uma fome de satisfação.

Toda fome tem uma característica marcante: quando alimentada, ela diminui (se sacia) a curto prazo, e aumenta a longo prazo. Comer aumenta seu estômago. Fazer sexo incita um homem a desejá-lo. Raiva, medo, ódio, curiosidade tendem a se fixar quando cultuados. Religiões se fixam na mente do homem, o amor  em si faz mais falta quando já se o teve.

A fome é o desejo por mais. É o que impede um homem de ver com indiferença a própria morte, de se importar com o fato de estar vivo. Sem fome, não há desejo, sem desejo, não há aspiração, sem aspiração, não há ação, ou motivação, ou interesse. É o princípio da apatia. Vida e morte tornam-se sinônimos, e quando surge uma pontada de fome de nada, esta prevalece àquela. É o princípio de um suicídio.

A fome de nada mata todos os demais tipos, é uma anti-fome, uma perda de humanidade e do senso de busca inerente a todos nós, que se manifesta de formar completamente diferentes, mas se origina sempre na fome, no desejo por algo mais. O desejo por algo menos é o suicídio da fome, o desejo se autodestruindo, desejando, como sempre deseja, mas desejando o próprio fim.

Depressão, estresse, inanição e falta de motivação são formas de fome de nada, é o desejo de não se satisfazer, o desejo de não desejar, essencialmente, o desejo de morrer.


Fome Crônica

Quando a fome surgiu
Criei mandíbulas enormes
Devorei toda a comida do universo,
Não bastou.
Reconhecendo que não era fome comum
fiz mais força
minhas mandíbulas cresceram.
Passei a devorar outras coisas
Todo tipo
Nada bastava.
Achei que era fome de vida
Crescendo ainda mais minha cavidade
Devorei pessoas
Durou muito tempo
até devorar todas
Todas as pessoas
Do universo
Não bastou.
Em desespero
Não mais medindo razão
Decidi parar de tentar coisas e tentei todas as coisas
Fiz forças enormes
descomunais
Me superpus a mim mesmo
Para que minhas mandíbulas ficassem maiores do que o universo
E colocando meus dentes em torno dele
Devorei o universo inteiro.
A certeza era errada
Não adiantou.
A fome não passava
E obviamente depois do universo
Não havia o que devorar.
Enfraquecido pela injusta medida
Regurgitei tudo
Tudo o que já comera
Se foi
Voltou a si
O universo não bastara
Então entendi que minha fome
Não era fome de comida, coisa, pessoa ou de tudo
Minha fome era fome de nada.


    Convido o leitor, como convidei no começo do blog, a comer. E que a comida simbolize todas as fomes que esse leitor sente. Não se apresse a se saciar, aproveite a fome como aproveita a comida. Cronos, como o tempo, devora tudo o que cria no momento em que nasce, mas a Prudência trará o devorado passado à tona. O que você come hoje será você amanhã.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poda social

Inconveniente.
Cada dia me ensina a odiar mais essa palavra
Não por si própria. Não se odeiam palavras por si próprias
Mas pela forma doentia como o mundo usa.
inconveniente, indecente, desrespeitoso
Sinônimos de "não é o que eu quero"
Não que não existam conveniência, decência e respeito
Mas eles não estão no julgamento de uma única pessoa
Aliás, coisas que exigem julgamento coletivo ainda são um problema para a humanidade
É difícil aceitar a visão alheia e não a sua
E se tentássemos conciliar tudo?!
Obviamente temos que escolher algumas formas de decência
O resto são bandeiras nuas

Adequação


É difícil ser humano
O aventalado diz
“Só com mil maçãs por dia
Um homem será feliz”

Ainda por outro lado
Me vem outro aventalado
“Três vezes ao dia escove
Ou ficará careado”

Diz-me então o batinado
“Dê uma hora do seu dia
À memória do Senhor
Ou fica a alma vazia”

Vem o da bandeira verde
Me dizer mais mil asneiras
“Cale a carne, apague a luz
E evite as torneiras”

Ainda têm o letrerrão
A berrar no meu ouvido
“Leia todos os jornais
Ou será embrutecido”

Diz-me então o mentorzão
Para piorar o tema
“Estude sua vida toda
Ou verá miséria extrema”

Depois tem o Stalineiro
A dizer, brandindo mil
“Pague bem ao mais humilde
Igualdade no Brasil!”

Segue-se o suspeiteiro
A berrar, incomformado
“Duvide de tudo e todos
Ande sempre preparado”

E por fim o smokinado
Com um tom experiente
“Fale baixo e fique quieto
Seja sempre, enfim, decente”

Concluí que o ser perfeito
Meus senhores e senhoras
Vive onde o dia tenha
Umas cento e vinte horas!


Eis uma fresquíssima trova Aiseop
Eu raramente me meto a trovador
Mas hoje achei conveniente
Se você não achou, discorde comigo
Mas discorde como quem quer entender

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Um pouco de opinião política...

Aperte dois numeros insignificantes
Quando um rosto insignificante aparecer
Confirme sua própria insignificância