terça-feira, 19 de novembro de 2013

Amargo

Estou cansado de estar cansado
Revoltando-me na cama
Sob o pesadume dormente de uma chuva de madrugada
Estou cansado de não gostar
Não-estar, mal-estar, mal-falar do que mal fazer
Estou cansado de engenharia reversa
De uma quebradiça exatidão
Estou cão-sado
Com fome do que não sacia
Na volta da noite má dormida
De um café de manhã fria

Estou cansado de enterrar
A língua morta na boca
Roer-me os fardos de Atlas
Sozinho

Mas estarei sozinho?
Meus irmãos estão nas estrelas
Espelhas
Reflexos longínquos do que eu acho que sou
Perco que sou
E não vou mudar
A dar ptar
Estamos fadados a morrer sozinhos
Curdos, judeus esfoliados
Ao chão doados
Abandonados?

Não.

Um fio de luz me vê
Eu não o vejo, me vê
E silencia-nos
Um fio-mãe de luz me acolhe ao colo
E me canta a canção da indulgência

Uma visão adamantina
De uma máquina ativa
Florescendo na matina
Uma humanidade viva
Que da paz só não se atina

Um segundo estático
De luz branca
Estamos parados
Escorregando pelo tempo
Pálidos e livres
E não vamos mudar
Ao dar ptar
Um fio de luz
Ma(i)s nada me ama
E eu posso dormir...
Dormir bem...