Jardim secreto
Caminhar, e ser averso
Passar batido pelo concreto
Na dobra da rua, um inverso
Na volta da vida, um jardim secreto
Que não dança nem fala por verso
Passar batido pelo concreto
Na dobra da rua, um inverso
Na volta da vida, um jardim secreto
Que não dança nem fala por verso
Uma joia dançando no carbono
De uma fuga, um escapamento
Lamentando a febre e o sono
De uma fuga, um escapamento
Lamentando a febre e o sono
Luto negro como o vento
Pernas podres de um outono
No passadiço, de tardinha
Uma menina deixa uma flor
Na nua pedra-rua da cova minha
Murcha, fraca, parca, nua, sem cor
Mas secreta, despudorada e daninha
"Moça, peço perdão
Você não sabia
Que debaixo do chão
Um jardim secreto te via
Não se assuste, minha jovem
Com os séculos que nos separam
Pernas podres de um outono
No passadiço, de tardinha
Uma menina deixa uma flor
Na nua pedra-rua da cova minha
Murcha, fraca, parca, nua, sem cor
Mas secreta, despudorada e daninha
"Moça, peço perdão
Você não sabia
Que debaixo do chão
Um jardim secreto te via
Não se assuste, minha jovem
Com os séculos que nos separam
Quero que seus lábios provem
O fruto que em mim sepultaram
Não é certo que um jardim
Ecoe vozes por uma calçada
Por um motivo pouco, assim
Como uma flor nela deixada
Mas permita-me dizer
Não posso te ver
Minha raiz mais profunda
Já é cega e moribunda
A morte já me dispensa a dor
Mas me conta tua flor
Que em minha cova está ainda
Que tu és linda"
O silêncio que se seguiu
"Quieto como um túmulo"
Foi o pesar do vazio
Do silêncio-luto um cúmulo
O que é o amor para um jardim deserto
Incubando sem esperança num sem-espaço?
É um caminho-flor que lhe é aberto
Através de terra, concreto e aço
E a bailarina dos bolsões
Que dança livre, e não fugindo
Pelas frestas entre os quarteirões
Como dizer-lhe o quanto é lindo
Esse um gesto entre milhões?
Não foi me dar a flor, o que você quis
Mas pela dureza que me sela
Molhou o mundo sua raiz
Uma manchinha amarela
Pintando minha vida
Nessa escura tela
O fruto que em mim sepultaram
Não é certo que um jardim
Ecoe vozes por uma calçada
Por um motivo pouco, assim
Como uma flor nela deixada
Mas permita-me dizer
Não posso te ver
Minha raiz mais profunda
Já é cega e moribunda
A morte já me dispensa a dor
Mas me conta tua flor
Que em minha cova está ainda
Que tu és linda"
O silêncio que se seguiu
"Quieto como um túmulo"
Foi o pesar do vazio
Do silêncio-luto um cúmulo
O que é o amor para um jardim deserto
Incubando sem esperança num sem-espaço?
É um caminho-flor que lhe é aberto
Através de terra, concreto e aço
E a bailarina dos bolsões
Que dança livre, e não fugindo
Pelas frestas entre os quarteirões
Como dizer-lhe o quanto é lindo
Esse um gesto entre milhões?
Não foi me dar a flor, o que você quis
Mas pela dureza que me sela
Molhou o mundo sua raiz
Uma manchinha amarela
Pintando minha vida
Nessa escura tela
"Volta, moça!
Exuma minha arte!
Exuma minha arte!
Quero ser sua tela
Que a noite cai
Quero ser sua vela
Me iluminai!
Que a noite cai
Quero ser sua vela
Me iluminai!
Pinta-me como tu és
Seja-me
Semeia tuas flores de sal
Sobre este passado cristalizado
Seja-me
Semeia tuas flores de sal
Sobre este passado cristalizado
Faz viver na selva um jardim
Faz-me aberto, exposto, fecundo
Faz-me novamente agente do mundo!
E quando o ciclo voltar para mim
E eu puder, enfim, morrer
Esquece-me a tempo
Faz-me novamente agente do mundo!
E quando o ciclo voltar para mim
E eu puder, enfim, morrer
Esquece-me a tempo
E volta a dançar
Entre os quarteirões
Entre os quarteirões
A simplicidade do que peço
É uma flor no chão
Moça... Eu acho que te amo...
..."
Moça... Eu acho que te amo...
..."