segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ciência e arte

Salamandra

A dança da pira
Exata e passional
Lembra que a louca labareda
Não tem forma casual
Mas é feita, ponto a ponto
Por mapa potencial
Contínuo
E conexo

Aí está a beleza
Franca e conciliatória
Desse mito, a natureza
Nossa mãe contraditória
A vida é tanto certeza
Quanto é aleatória

Que o fogo é ciência
Mas o arder é arte

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mantra da morte

Mantra da morte

O tempo que tive, o tempo que tenho
Olho por olho, dente por dente
O espaço em que vivo, o do qual eu venho
Osso por osso, mente por mente

O olho que pisca, abre e fecha em instante
Olho por olho, dente por dente
Rio que deságua na eterna jusante
Osso por osso, mente por mente

Pó do qual se vem e pó ao qual se torna
Olho por olho, dente por dente
Testa que o ouro do cadáver orna
Osso por osso, mente por mente

Enxerto de deus que em julgar persiste
Olho por olho, dente por dente
A esquina da vida está lá! Existe!
Osso por osso, mente por mente

Banha o esqueleto e o chama desgraça
Olho por olho, dente por dente
Vê-se cadáver quando por um passa
Osso por osso, mente por mente

Escala a escarpa semi-reta crônica
Olho por olho, dente por dente
Faz do Universo a caverna platônica
Osso por osso, mente por mente

Vive em desando tentando nascer
Olho por olho, dente por dente
No instante primeiro não fenecer
Osso por osso, mente por mente

Vai ao extremo de amar a inocência
Olho por olho, dente por dente
Esconde o olho da nefasta essência
Osso por osso, mente por mente

Diz sempre ter visto o que nunca via
Olho por olho, dente por dente
Condensa em real uma vã fantasia
Osso por osso, mente por mente

Ama ferozmente o homem seguinte
Olho por olho, dente por dente
Qual fosse de si mesmo constituinte
Osso por osso, mente por mente

Faz falso fixo feroz altruísmo
Olho por olho, dente por dente
Qual ceifasse uma arma contra o abismo
Osso por osso, mente por mente

Vê em tal passagem mais nada: uma queda
Olho por olho, dente por dente
Diz que ela cura para não que depreda
Osso por osso, mente por mente

Cobre-se um ou outro em sabedoria
Olho por olho, dente por dente
Faz falsa pompa de dar-lhe valia
Osso por osso, mente por mente

Todo homem que não a muito deseje
Olho por olho, dente por dente
 Treme de horror por que nada sobeje
Osso por osso, mente por mente

(Abrupta mudança de ânimo)

Um louco nécrico dança na grama
Abraça a morte enquanto não o chama
Um louco nécrico dança na grama
Abraça a morte enquanto não o chama
Um louco nécrico dança na grama
Abraça a morte enquanto não o chama
Um louco nécrico dança na grama
Abraça a morte enquanto não o chama
Um louco nécrico dança na grama
Abraça a morte enquanto não o chama
Um louco nécrico dança na grama
Abraça a morte enquanto não o chama
... (Enquanto puder repetir)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

De uma tristeza profunda, viva, valiosa enfim.


Dentro de minha depressão
límpida e regular
encho de água minha visão
faço lago em qual nadar
em uma doce imersão
quando eu me perdoar
e me der a permissão
a de novo me amar

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mais três trovas travadas

(I)

Eu tentei me ver no espelho
Mas como não refletia
Vi alguém a quem me assemelho
Comigo só parecia

(II)

Este verso foi em vão
Este dia está pasado
Berço pisca e já é caixão
O 'antes' é tempo enrolado

(III)

Quem muito tempo efetiva
A cuspir no homem safado
É porque não tem saliva
Pra falar porque está errado