terça-feira, 21 de agosto de 2012

Deus da guerra

Pena vermelha

No leito fúreo de coberta humana
Pousava marte, o pai do Terror
Da carne olímpia o fervor que emana
Concorda o olho cego à chaga e à dor

Pensava amores fundados em gana
Furos venéreos em férrica cor
No deus cuja bela esposa profana
Da viril arma da guerra o autor

Só na labuta de uma forja escura
Sob a luz vermelha do ígneo forno
Pensando a dor do adultério, tortura

Marte perdeu a cor da face dura
Para a dureza do coxo, do corno
Marte chorou uma lágrima de cura

Só uma frustração inacabada


O mundo
É um deserto de idéias
Eternamente pisado
Pelos bois do passado

Nas veias de Drummond de Andrade, Manoel Bandeira e Alphonsus de Guimarães


Duas luas

O senhor-chefe-rei Huamura
Dono da megacorporação multinacional multirede multifnção de conglomerado macroeconômico
Acionista maior do poliverso hiperfinanceiro de oniprodutividade de metamercados gerais
Dançava
No forro da torre
A dança da dúvida
E sorria arqueologicamente
Para a noite de Beijing
Acima via uma estrela
Uma via, vivia ao vê-la
O senhor-chefe-rei Huamura
Lambia o ar com ternura
Acima via uma flor
Via logisticamente dimensionada
Pela engenharia de instantes de amor
Eletromagneticamente perfeita
Um Huaponto de luz
Que ria ao som do estalar
Das solas dos sapatos de alta costura e superfaturados por coligação de elementos de altíssimo luxo
No chão

Pulsava
Em fortes e fracos
Difratometricamente distribuida
Entre os dois olhos de Huamura
A jóia da abóbada escura
A primeira coisa que amara
A jóia da noite clara
Huamãe apagava o candeeiro
De uma Beijing-mundo inteiro
E com um beijinho
Sincero
Subfaturado
Punha o chefe-rei a dormir
E huamura dormia vivo
Nos trens-bala verticais
Nos seus trends vertiginais
Dormia em pé
E agitado
Não como o mercado
Como criança é
Dormia de olhos abertos
E sonhava acordado com o que via
Uma via que via ao vivê-la
Viável como nada nunca
Mesmo a irrecusável proposta de compra da gigante mineiradora de não ferrosos que se concretizava
Na reunião geral corporacional de avaliação da dita proposta de compra da qual Huamura se ausentava

Besteira
Perante o que via
Que quando queria
Huamura vendia o mundo
Menos ele e seu amor
E, sozinho no escuro
Um grão de amor biótico
Com seu fotocárdio puro
Amava o mundo em fluxo osmótico
O olho virou pedra, estático
O pensar estancou, extático
Huamura deu um passo errático
Rumo à luz!

Huamura não tinha corpo
Nenhum que esta terra sugasse
Sentia essa massa capitalizada
Expelir sua alma azul!
Amava, no amor recriado
No espaço não orientado
O mundo, vendido, caía
Opção que virou pó
Um ponto de escuridão vazia
Caiam os braços famintos
As pernas loucas
O estômago obcesso
O fígado traumatizado
Mas não
O coração
Esse vivia essa via
Ao vê-la cósmica e vazia
Nem mesmo o sobrevivia
A consciência fria
E sem massa, sem cotação
Desabrochava em flor o coração
O pronto-flor-luz era esfera
Era vida! Era!
E abria seus braços oníricos
Huamura abria seus amores
E derretia em sonhos líricos
Rumo
À
Luz

O senhor-chefe-rei huamura
Senhor-grande-empresario
Nesta noite escura e bastante fria de dezessete de novembro de dois mil e onze, na capital da China
Soltou-se do forro da torre
Caiu trezentos e trinta metros
E esmigalhou seu corpo
No chão
Ali, no asfalto comunista
Sob uma multidão monista
Ficou frio, inerte, sem osso
À vista
A carne do braço
A tontura da perna
O olho do estômago
E o medonho fígado
E a consciência
Por um instante de luz
Quântico, fotônico
Girou ainda, no chão quente
E apagou
Mas o coração
A ultima vela
Ainda meio moído de costela
Pulsou
E sentiu aquela massa arrasada
Expelir seu corpo vermelho!
E só em um mundo escuro
Um grão de dor caótico
O coração era furo
Povoou o mundo num fluxo osmótico
E luziu!
(Tributo a Ismália)